Pensata

Carlos Heitor Cony

30/11/2004

O bode e eu

Na crônica anterior, agradei e desagradei alguns leitores que enviaram e-mails me elogiando ou criticando. Comentando dois assaltos simultâneos, um na Linha Vermelha, outro na Amarela, acessos hoje principais ao Rio, perguntei por que não se construía um muro, uma espécie de tubo a céu aberto, para evitar assaltos, seqüestros e acidentes com animais.

Não sugeri que se transformasse as favelas existentes, ao lado das duas estradas, em guetos medievais, isolando os pobres dos ricos. Leram mal ou entenderam mal.

Em todo o mundo, as vias expressas, as "free-ways", têm algum tipo de proteção para garantir o fluxo e a segurança dos carros e, obviamente, de seus passageiros.

No caso das duas linhas expressas do Rio, grande parte delas é constituída de viadutos, que os isolam da paisagem circundante, tornando difícil os assaltos e impossível a invasão de animais.

Além disso, há trechos desertos que não precisariam de proteção, são pantanosos, impedem que animais e bandidos cheguem até às pistas.

A proteção seria limitada a pequenos trechos, não para cercar as favelas, que estão mais ou menos distantes, mas para cercar as estradas.

Os moradores da região não ficariam confinados, os acessos normais estariam livres para ir e vir, eles não usam as estradas de alta velocidade, onde não existem pontos de parada nem cruzamentos.

De qualquer forma, alguma coisa precisa ser feita. Mês passado, levando um amigo ao aeroporto, um bode atravessou a pista. Chovia, a visibilidade era pouca. Na velocidade que vinha, mataria o bode e certamente eu não estaria aqui, enchendo os leitores.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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