Pensata

Carlos Heitor Cony

01/02/2005

A guerra do futuro

Não me incluo entre os que criticam o presidente Lula pela participação no encontro em Davos. Ele está certo, ao levar sua mensagem não aos já convertidos em Porto Alegre, mas aos gentios que se reúnem na cidade suíça, mostrando que o mundo continua injusto apesar de cada vez mais rico para alguns.

Um detalhe me chamou a atenção. A proximidade, a cara bajulatória de Bill Gates, o maioral da Microsoft, querendo se insinuar no grupo de admiradores do nosso presidente.

Podia ser o caso de uma simpatia pessoal, Bill Gates tem o direito de ser macaca de auditório de quem admira --e Lula merece ser admirado por sua biografia, sua sinceridade aos defender as idéias, boas ou más, que assumiu.

Infelizmente, não se tratou de uma simpatia nem de uma homenagem do homem considerado mais rico do mundo ao presidente de um país que ainda luta contra a pobreza. Bill Gates queria se aproximar de Lula para exercer o lobby que o tornará mais rico, fazendo com que o Brasil despreze os programas dos concorrentes e feche tudo com a sua empresa.

A briga pela hegemonia dos softwares ameaça uma truculência que só teve igual no tempo em que as especiarias do Oriente, o carvão e mais recentemente o petróleo criavam, além de turbulências na economia mundial, guerras de verdade, que causavam milhares de mortos.

Bill Gates queria convencer Lula a desprezar softwares como o Linux. A briga envolve milhões de dólares a mais para a Microsoft e milhões de dólares a menos para o Brasil.

Por ora, Lula não encontrou tempo para uma conversa a sós com o magnata que deseja ampliar o mercado de seu principal produto, o windows, ainda o mais popular no Brasil.

Veremos quanto tempo ele resistirá.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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