Pensata

Carlos Heitor Cony

15/02/2005

"Mater et Magistra"

Nada mais estúpido do que, católicos ou não, aconselharem o papa João Paulo 2º a renunciar. Antes de tudo, qualquer renúncia é questão de foro íntimo. Além do mais, a pressão de grupos ou pessoas, por mais importantes que sejam, no sentido de alguém pedir a renúncia de um papa ou de um governante, é uma violência provinda de uma conspiração preliminar. Imprópria, por conseguinte, no seio de uma igreja regida por códigos e tradições.

Que o atual papa está doente, caindo pelas tabelas, está. Continua lúcido, mas suas energias minguam a cada dia, tornando difícil o comando que ele exerce sobre uma instituição que conta com 20 séculos de existência e um bilhão de crentes.

Contudo, o governo central da Igreja, a cúpula política e administrativa, criada e mantida por ele, permanece intacta, azeitada nos mínimos detalhes. Evidente que este mecanismo tem como núcleo as diretrizes e a personalidade do papa reinante. E assim permanecerá enquanto João Paulo 2º estiver vivo, condição que, segundo os católicos, não pertence aos homens mas a Deus.

Os apressadinhos, que desejam mudar a Igreja para lá ou para cá, devem pensar duas vezes antes de dar qualquer palpite a respeito. A Igreja atravessou dois mil anos na História sem pressa, o problema central dela não é adaptar-se aos tempos, mas continuar dando o seu recado espiritual, seja ele simpático ou não às gerações que chegam e vão embora.

De tempos em tempos, concílios ecumênicos são convocados por determinado papa e algumas correções de curso são feitas, mas sempre em torno do eixo central que a mantém, para os verdadeiros católicos, e como disse outro papa, mãe e mestra.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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