Carlos Heitor Cony
22/02/2005
Pensando bem, o fisiologismo do Severino é bem mais inofensivo do que o fisiologismo da base governista que jogou tudo, todos os recursos, na eleição do candidato do Planalto. Até que Severino foi mais modesto, prometendo aumento de salários aos deputados e outras vantagens corporativas. Somando tudo, não chega a uma gota d´água do que rola em cargos, verbas e mordomias várias com que o governo cria e mantém sua base de apoio no Congresso, sobretudo na Câmara dos Deputados, que é mais decisiva e difícil de controlar.
A pessoa -- passado e presente de Severino -- na realidade não importa.
Ele não é um cara simpático, de visual deslumbrante, embora possa ser boa gente, como todo nordestino, devoto de Nossa Senhora Aparecida e, tirante seu deslavado apoio ao regime militar, tem as mãos limpas de sangue e de dinheiro -- pelo menos, até hoje não foi acusado de nada neste setor.
Parece que navega bem na política, tal como ela se pratica entre nós, na base do toma lá, dá cá, que prevalece em todos os segmentos da nossa vida pública, disfarçadamente em alguns casos, escancaradamente na maioria deles.
Tem um discurso linear, não esconde o jogo, não dá muita bola para a mídia, para os chamados formadores de opinião -- e isso é ponto favorável para ele. Por mais que pareça incrível, tudo isso resulta numa personalidade independente -- virtude cada vez mais rara em nossa paisagem.
Contra a Maré
Por mais que me esforce, não consigo ficar irritado nem desapontado com a eleição do novo presidente da Câmara. Mais uma vez, estou remando contra a maré. Seria ético, seria bacana e politicamente correto se me espantasse, se rasgasse as vestes em sinal de protesto, tal como os fariseus de antigamente, quando ouviam uma blasfêmia ou diante de uma profanação da Lei.Pensando bem, o fisiologismo do Severino é bem mais inofensivo do que o fisiologismo da base governista que jogou tudo, todos os recursos, na eleição do candidato do Planalto. Até que Severino foi mais modesto, prometendo aumento de salários aos deputados e outras vantagens corporativas. Somando tudo, não chega a uma gota d´água do que rola em cargos, verbas e mordomias várias com que o governo cria e mantém sua base de apoio no Congresso, sobretudo na Câmara dos Deputados, que é mais decisiva e difícil de controlar.
A pessoa -- passado e presente de Severino -- na realidade não importa.
Ele não é um cara simpático, de visual deslumbrante, embora possa ser boa gente, como todo nordestino, devoto de Nossa Senhora Aparecida e, tirante seu deslavado apoio ao regime militar, tem as mãos limpas de sangue e de dinheiro -- pelo menos, até hoje não foi acusado de nada neste setor.
Parece que navega bem na política, tal como ela se pratica entre nós, na base do toma lá, dá cá, que prevalece em todos os segmentos da nossa vida pública, disfarçadamente em alguns casos, escancaradamente na maioria deles.
Tem um discurso linear, não esconde o jogo, não dá muita bola para a mídia, para os chamados formadores de opinião -- e isso é ponto favorável para ele. Por mais que pareça incrível, tudo isso resulta numa personalidade independente -- virtude cada vez mais rara em nossa paisagem.
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
