Carlos Heitor Cony
01/03/2005
Durante anos teve péssima fama por causa do presídio que se tornou famoso, a ditadura do Estado Novo botava lá os descontentes com o regime. Havia ainda um lazareto para doentes. Ir até lá era uma temporada no inferno - diria o poeta Rimbaud.
Com o presídio e o lazareto em ruínas, a Ilha Grande ressurgiu das águas, verde como uma fantástica sereia com sua parte de peixe submersa.
E rendilhada como uma pérola barroca, que é diferente das pérolas lisas e redondas que freqüentam o colo das mulheres.
No estágio em que está, ainda úmida dos dias da Criação, quando o Senhor separou a terra das águas, a Ilha começa a ser invadida pelo turismo massivo e predatório. Lembra, bem para melhor, o caso de Búzios, colônia de pescadores com suas praias brancas e ensolaradas, o mar em volta criando estupendas combinações de verde e azul.
Um dia dos anos 60, justo na época do Movimento Militar de 64, chegou por lá Brigitte Bardot e tudo começou a mudar. A atriz francesa só passou ali três semanas mas o estrago ficou para sempre. Búzios tornou-se subúrbio de Cabo Frio.
A Ilha Grande merece destino melhor. Não pode ser aviltada. Próxima do continente, entre os dois grandes pólos econômicos do país (São Paulo e Rio ligados cada vez mais pelo Vale do Paraíba), ela deve ser preservada não como paraíso ecológico, que é clichê inventado pelo Ibama. Precisa continuar úmida, recém-saída do Gênesis, logo após o Senhor ter criado a luz.
Ilha Grande
Não conhecia a Ilha Grande, só de nome e fama. Admirava-a de longe e do alto, os aviões da ponte-aérea Rio-São Paulo passam por cima dela. Um trabalho conjunto com Ivo Pitanguy, Anna Lee e o príncipe Dom João ( que fará as fotos), levou-me a passar uns dias lá -- e foi um alumbramento.Durante anos teve péssima fama por causa do presídio que se tornou famoso, a ditadura do Estado Novo botava lá os descontentes com o regime. Havia ainda um lazareto para doentes. Ir até lá era uma temporada no inferno - diria o poeta Rimbaud.
Com o presídio e o lazareto em ruínas, a Ilha Grande ressurgiu das águas, verde como uma fantástica sereia com sua parte de peixe submersa.
E rendilhada como uma pérola barroca, que é diferente das pérolas lisas e redondas que freqüentam o colo das mulheres.
No estágio em que está, ainda úmida dos dias da Criação, quando o Senhor separou a terra das águas, a Ilha começa a ser invadida pelo turismo massivo e predatório. Lembra, bem para melhor, o caso de Búzios, colônia de pescadores com suas praias brancas e ensolaradas, o mar em volta criando estupendas combinações de verde e azul.
Um dia dos anos 60, justo na época do Movimento Militar de 64, chegou por lá Brigitte Bardot e tudo começou a mudar. A atriz francesa só passou ali três semanas mas o estrago ficou para sempre. Búzios tornou-se subúrbio de Cabo Frio.
A Ilha Grande merece destino melhor. Não pode ser aviltada. Próxima do continente, entre os dois grandes pólos econômicos do país (São Paulo e Rio ligados cada vez mais pelo Vale do Paraíba), ela deve ser preservada não como paraíso ecológico, que é clichê inventado pelo Ibama. Precisa continuar úmida, recém-saída do Gênesis, logo após o Senhor ter criado a luz.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |