Carlos Heitor Cony
05/04/2005
A mídia aproveitou a morte de um e de outro como pretexto para a espetacularização a que pouco a pouco estamos forçados a consumir, tanto no plano nacional como no internacional.
Os senhores da comunicação acreditam que encontraram o veio mais substancioso para atrair e manter leitores, ouvintes e espectadores. Não adianta noticiar fatos. É preciso amplificá-los, apelando para detalhes íntimos, muitas vezes para o escabroso.
A regra vigorante agora aceita pelos editores é a de que o simples fato, mesmo que seja um drama íntimo, não basta para a pretendida missão de informar a massa. Julgam eles que é necessário botar um "molho" - e este molho geralmente é a invasão da privacidade, geralmente seguida pelo mau gosto e até mesmo pela repetição dos detalhes que deviam ficar subentendidos.
Pelo menos durante duas semanas, jornais e TVs repetiam sempre a mesma foto, a da moça de boca aberta na longa agonia que pedira para ter um fim; e a dramática foto do papa, no massacre desesperado do tratamento com que procuravam prolongar a sua vida.
Cito dois fatos recentes que na realidade, e com motivações diferentes, concentraram a atenção mundial. Não bastando os dois dramas em si, a mídia não teve escrúpulos em transformá-los em uma forma de espetáculo, como uma novela ou um show até certo ponto macabro.
Grandes shows
Antes de mais nada, proclamo o meu respeito, até mesmo a minha dor pessoal pelas mortes de João Paulo 2º e da Terry Schiavo. Em diversos artigos, em jornais e na TV, lamentei o prolongado drama do primeiro, louvei seus feitos e sua extraordinária biografia. No caso da moça que pediu para morrer por não suportar o estado irreversível em que se encontrava há anos, também muito escrevi sobre a eutanásia.A mídia aproveitou a morte de um e de outro como pretexto para a espetacularização a que pouco a pouco estamos forçados a consumir, tanto no plano nacional como no internacional.
Os senhores da comunicação acreditam que encontraram o veio mais substancioso para atrair e manter leitores, ouvintes e espectadores. Não adianta noticiar fatos. É preciso amplificá-los, apelando para detalhes íntimos, muitas vezes para o escabroso.
A regra vigorante agora aceita pelos editores é a de que o simples fato, mesmo que seja um drama íntimo, não basta para a pretendida missão de informar a massa. Julgam eles que é necessário botar um "molho" - e este molho geralmente é a invasão da privacidade, geralmente seguida pelo mau gosto e até mesmo pela repetição dos detalhes que deviam ficar subentendidos.
Pelo menos durante duas semanas, jornais e TVs repetiam sempre a mesma foto, a da moça de boca aberta na longa agonia que pedira para ter um fim; e a dramática foto do papa, no massacre desesperado do tratamento com que procuravam prolongar a sua vida.
Cito dois fatos recentes que na realidade, e com motivações diferentes, concentraram a atenção mundial. Não bastando os dois dramas em si, a mídia não teve escrúpulos em transformá-los em uma forma de espetáculo, como uma novela ou um show até certo ponto macabro.
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
