Pensata

Carlos Heitor Cony

17/05/2005

Boff 1º

Em busca de assunto, certos jornais insistem em discutir a eleição do último papa, e buscam um ex-franciscano que continua chorando pelo leite derramado do movimento que tentou criar uma "teologia adaptada aos tempos".

Nos anos 80, em nome da libertação dos povos oprimidos, teólogos de diferentes tamanhos e feitios procuraram adaptar a teologia da Igreja Católica e até mesmo os evangelhos a uma leitura palatável (detesto esta palavra mas há gente que gosta), que pudesse somar à opressão capitalista que grassava em diversos países do mundo, sobretudo na América Latina.

A linguagem adotada era ambígua --para dizer o menos-- e, se as palavras não eram as mesmas, o raciocínio ficava mais para o socialismo de tipo marxista, do que para a essência e tradição do próprio cristianismo.

Com a derrocada da visão socialista tipo comunista, derrocada que não se deveu à luta dos povos oprimidos pela libertação da truculência capitalista, os teólogos da nova seita ficaram sem discurso e o ex-franciscano, que se recusava a abandonar o hábito que ainda usava quando queria impressionar seus devotos, assumiu finalmente sua condição de leigo.

Caiu em relativo ostracismo mas foi ressuscitado com a eleição do cardeal Ratzinger para o papado. Parte da mídia sem assunto foi em cima dele, buscando explicações e palpites para o futuro da humanidade em geral e para o catolicismo em particular.

Não perco tempo com o que está sendo dito por ele e seus adeptos. Logo no início da teologia da libertação, escrevi diversas vezes que o ex-franciscano devia ter a coragem e a coerência de fundar uma nova religião baseada no "mix" que estava sendo criado por teólogos insatisfeitos com os rumos do pontificado de João Paulo 2º.

Nada demais se eles abrissem uma oferta no mercado religioso. Teríamos assim, de um lado Bento 16, de outro Boff 1º, com vantagem para este último, pois além de primeiro, tem tudo para ser o único.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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