Pensata

Carlos Heitor Cony

19/07/2005

Cor alaranjada

Não parece, mas estou estranhando a ausência do Maluf na mídia. Desde que perdeu a última eleição, ele foi unanimemente enterrado pela mídia, embora já estivesse enterrado umas cinco ou seis vezes. Se há um criminoso público testado, provado e comprovado, é justamente ele. Toneladas de documentos comprovam suas tramóias, sua contas no exterior, suas obras superfaturadas.

Politicamente, está sepultado há muito, basta reler 99% das colunas dos jornais e revistas por ocasião das campanhas eleitorais em que ele concorre para ser isso ou aquilo. É o cadáver mais vezes sepultado da nossa história.

Mas basta uma nova eleição, seja lá para o que for, e ele ressurge da tumba. Aviões e navios chegam da Suíça abarrotados de documentos insofismáveis provando suas falcatruas. Nem sei onde os jornais, revistas, TVs, o Ministério Público e a Polícia Federal conseguem guardar tantas e tamanhas provas, aqui somadas e multiplicadas pela documentação doméstica, exigindo a necessidade de botar Maluf no xadrez até o fim de seus dias.

É um mistério recorrente, dos muitos que temos em nossa vida pública. Passada a campanha eleitoral, acredita-se que Maluf afinal pagará por seus crimes. O túnel Ayrton Senna custou 500 vezes o seu preço real. De acordo com as provas, o tal preço, 499 vezes maior do que o custo real, foi colocado em paraísos fiscais. O 1% que sobrou foi o túnel, por onde milhares ou milhões de paulistanos passam diariamente, iluminados por uma cor meio alaranjada.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca