Pensata

Carlos Heitor Cony

13/09/2005

PT e PM

Com a cruzada em favor da moral e dos bons costumes políticos, está aberto o espaço para a fundação de um novo partido, o Partido dos Moralistas ou da Moral, cuja abreviatura será simples e lembrará a do Partido dos Trabalhadores, também conhecido como PT.

A tônica da próxima campanha para a Presidência da República, governos estaduais, Congresso e assembléias legislativas será a Moral, a promessa gritada de que não mais haverá roubo. Nem caixas 2, subornos, mensalões, mensalinhos. Seremos candidatos a um país de vestais, gente ilibada, acima de qualquer suspeita.

Já foi tempo em que a prioridade era o desenvolvimento e a justiça social. E sobretudo para o PT, o diferencial era a moralidade pública, uma vez que o mal que nos envergonhava era a corrupção, na qual os demais partidos e políticos chafurdavam.

Foi criado um grande vácuo no processo eleitoral e partidário. O último baluarte da moralidade caiu feio, minado por escândalos que na voz ativa e passiva geraram a crise que atravessamos. Digo voz "passiva" porque até mesmo a eleição de Severino para a presidência da Câmara dos Deputados, a serem verdadeiras as acusações que pesam contra ele, foi decorrência de uma realidade política falida pela incompetência e pela corrupção dos hierarcas petistas que se vendiam como imaculados.

Teremos o PM --que, por sinal, é a sigla da Polícia Militar que tanto estrago fez durante a ditadura. Será apenas uma coincidência de siglas. O cassetete da Moral substituindo o cassetete policial.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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