Carlos Heitor Cony
11/10/2005
A regra fundamental de cada grupo é a posse, a hegemonia absoluta da verdade, que por si só é problemática e móvel, como aquela dona cantada pelo duque na ópera de Verdi: "la donna è mobile". Outra regra paralela em seu fundamentalismo, decorrente da primeira, é a demonização do contrário. Em casos extremados, a demonização obriga o partidário da esquerda ou da direita a mudar de calçada quando vê o "outro", a fim de evitar a lepra, o contágio letal e definitivo: "foi visto com fulano, logo é suspeito".
Mas a vantagem é o conhecimento dos podres ideológicos e pessoais de cada grupo. Como são feitas as imagens e biografias dos aliados e inimigos, valendo tudo e nada acrescentando na avaliação isenta de cada fato e de cada pessoa.
O mais engraçado é que muitas vezes os lados se invertem, causas da esquerda se transformam em causas de direita e vice-versa. As autocríticas são mais lamentáveis do que as justificativas para cada posição. Neste particular, a esquerda ganha de longe. Suas autocríticas, apesar de espalhafatosas, não ensinam nada. Com o mesmo entusiasmo embarcam novamente em canoas furadas, sabendo que, depois do naufrágio, farão autocrítica e tudo ficará nos conformes.
A direita, pelo contrário, só raramente faz autocrítica porque é conservadora, nem sempre se atribui o monopólio da verdade mas do hábito. Hábito que não faz o monge mas faz com que ela acabe sempre ganhando no plano da grande história, que por isso mesmo, nada tem de recomendável.
Os podres de cada lado
Não ser da direita nem da esquerda, nem mesmo do centro, tem suas vantagens, apesar da solidão e dos ataques que recebe de todos os lados. Até mesmo a vantagem é problemática, só é vantagem para si próprio. Assumindo atitudes e pensamentos ora da direita, ora da esquerda, ora do centro, por isso ou aquilo acaba conhecendo cada lado ideológico, político e comportamental, suas contradições, seus oportunismos e, freqüentes vezes, sua idiotice.A regra fundamental de cada grupo é a posse, a hegemonia absoluta da verdade, que por si só é problemática e móvel, como aquela dona cantada pelo duque na ópera de Verdi: "la donna è mobile". Outra regra paralela em seu fundamentalismo, decorrente da primeira, é a demonização do contrário. Em casos extremados, a demonização obriga o partidário da esquerda ou da direita a mudar de calçada quando vê o "outro", a fim de evitar a lepra, o contágio letal e definitivo: "foi visto com fulano, logo é suspeito".
Mas a vantagem é o conhecimento dos podres ideológicos e pessoais de cada grupo. Como são feitas as imagens e biografias dos aliados e inimigos, valendo tudo e nada acrescentando na avaliação isenta de cada fato e de cada pessoa.
O mais engraçado é que muitas vezes os lados se invertem, causas da esquerda se transformam em causas de direita e vice-versa. As autocríticas são mais lamentáveis do que as justificativas para cada posição. Neste particular, a esquerda ganha de longe. Suas autocríticas, apesar de espalhafatosas, não ensinam nada. Com o mesmo entusiasmo embarcam novamente em canoas furadas, sabendo que, depois do naufrágio, farão autocrítica e tudo ficará nos conformes.
A direita, pelo contrário, só raramente faz autocrítica porque é conservadora, nem sempre se atribui o monopólio da verdade mas do hábito. Hábito que não faz o monge mas faz com que ela acabe sempre ganhando no plano da grande história, que por isso mesmo, nada tem de recomendável.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |