Pensata

Carlos Heitor Cony

18/10/2005

Sacos de plástico

Fiquei pasmo quando soube que uma pequena fortuna em euros foi escondida a céu aberto, dentro de um saco de plástico abandonado numa praça pública da Zona Norte aqui no Rio. Era parte do dinheiro que sumira da sede da Polícia Federal, e que fora repartido entre os funcionários daquela instituição que o haviam roubado.

Denunciados, cada qual procurou esconder a parte que lhe cabia. Um deles, sendo policial e sabendo das coisas, achou que o lugar mais seguro era o saco de plástico, jogado num canto de logradouro público.

O episódio ensina o que devemos fazer. Não adianta guardar o que é nosso em bancos, caixas-fortes, cofres, em subterrâneos fortificados e guardados por tropas de elite, sensores e radares. O lugar mais seguro é mesmo a céu aberto, a praça que é de todos, o saco de plástico, transparente como está na moda, embalagem segura e leve que nos trouxe o leite, as verduras da feira-livre.

Chegamos a este ponto em matéria de segurança. Tem a sua lógica. E os policiais sabem disso, conhecem o tipo de proteção que é oferecido à população. São os primeiros a descrer dos recursos tradicionais. É temerário guardar valores, roubados ou não, em lugares tidos como seguros, fatalmente serão descobertos não apenas pelas batidas da justiça ou da polícia, mas pelos próprios ladrões. São todos do mesmo ofício, conhecem os truques usados para escondermos o que nos interessa e nos é caro, seja o dinheiro, as jóias, os segredos pessoais.

Todos exigem transparência --e nada mais transparente do que o saco plástico e a praça pública para guardar valores que acreditamos sejam nossos, pelo menos, até que nos sejam roubados.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca