Pensata

Carlos Heitor Cony

21/08/2001

Dana de Teffé

Em cordial resenha ao meu último romance, Marcelo Coelho diz que estou preso a meus fantasmas, o que é uma verdade. E inclui entre esses fantasmas o de Dana de Teffé, uma estranha mulher que foi assassinada pelo amante e cujo cadáver nunca apareceu. Por isso, o amante não foi condenado: sem a existência do corpo delito, a justiça não admite a existência de um crime de morte.

Foi um caso que ocupou e preocupou a imprensa durante anos, todos procuraram a ossada de Dana: polícia, nobreza, clero, povo e demais interessados. Até hoje seus ossos não foram encontrados.

E olha que muita coisa aconteceu no mundo. Frank Sinatra veio ao Brasil e o homem foi à Lua - coisas que pareciam impossíveis. O papa ouviu Fafá de Belém, o juiz Nicolau entrou numa fria, eu entrei na Academia. Coisas absurdas aconteceram mas a ossada de Dana de Teffé nunca apareceu.

Tenho motivos para incluí-la entre meus fantasmas. Era uma judia tcheca ( ou uma cigana também tcheca) que traiu parentes e amigos durante o nazismo, ganhando muito dinheiro com isso. Casou com um conde e dançou no balé de Monte Carlo. Casou depois com um diplomata brasileiro, que era também automobilista. Viúva, veio para o Brasil coberta de jóias e dinheiro.

Caiu na asneira de arranjar um amante que era advogado e esperto. Sumiu misteriosamente e como o corpo dela nunca apareceu, o assassino não foi condenado.

Uma história macabra, fantasmagórica, que realmente incluo entre os meus fantasmas pessoais. E não é dos piores. Tenho outros mais cruéis e devastadores.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca