Pensata

Carlos Heitor Cony

15/09/2001

O dia da ira

Guerra é guerra, mas nem sempre as guerras são a mesma coisa. No limiar de um novo século e, sobretudo, após a guerra mais cruenta da história, a de 1939-1945, a humanidade aprendeu a temer não apenas a guerra em si, mas a possibilidade de uma guerra diferente, mais tecnológica do que militar, por isso mesmo, mais abrangente e cruel.

Durante a Guerra Fria, esquematicamente compreendida entre o final dos anos 40 e o final dos anos 80, temeu-se uma guerra entre as superpotências, que seria devastadora -tão devastadora que ela se limitou a conflitos localizados (Coréia, Vietnã, Oriente Médio e Golfo).

De qualquer forma, por mais terrível que fosse esta guerra, ela teria propósitos e participantes visíveis e declarados. Seria um conflito de nações e blocos.

O pânico que toma conta da humanidade, após os atentados terroristas nos Estados Unidos, é a eclosão de uma guerra transnacional - a primeira da história. O terrorismo, que expressa o sentimento anti-americano e anticapitalista, não se limita a um povo, a uma raça, a um país. É generalizado. O nosso vizinho pode ser alvo da caçada quase individual que precederá ou prolongará a destruição ou ocupação de um ou dois países que formalmente são suspeitos de tolerar ou fomentar o terrorismo.

Pessoalmente, não creio numa guerra nuclear. Acredito que, a título de advertência, seja explodido algum tipo de armamento nuclear, com o mínimo possível de vítimas e danos.

Mas a guerra será implacável, total, poderá se transformar numa caça não apenas aos terroristas de carteirinha, mas a todos os que, de uma forma ou outra, não aceitam a hegemonia econômica, militar e cultural do grupo dominante na esfera internacional.

Pode ser o anúncio do fim de uma civilização. O dia da ira que além de ser uma ameaça, é o fim da esperança de uma humanidade em paz.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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