Carlos Heitor Cony
17/12/2002
Acredito que o mesmo tenha ocorrido em outros países. Mas em Portugal estive em contato com autoridades, intelectuais, garçons e motoristas. Todos, em grau diferente mas com o mesmo espanto e a mesma admiração, louvavam o Brasil pelo fato de ter escolhido para a presidência um ex-operário, sem nenhum diploma escolar, retirante de uma região desolada pela seca.
São raros os portugueses que conhecem em detalhes os nossos problemas políticos, nossas brigas eleitorais e ideológicas. Mas a mídia mundial deu a Lula uma dimensão de mito não apenas popular, o que seria óbvio, mas mito realmente nacional e até mesmo internacional.
Nós, aqui no Brasil, já estávamos acostumados com ele, sua insistência em disputar a presidência. Seria sempre uma possibilidade, uma opção mais ou menos remota, uma vez que na hora do voto, as forças tradicionais se uniriam contra ele.
E aconteceu o contrário. Talvez tenha sido este fato inesperado, a união de tantos setores para eleger um ex-operário de fala rude, que tenha causado em Portugal ao mesmo tempo um pasmo e uma inveja sadia. E certamente, em outros países Lula é considerado um fenômeno e uma esperança.
Se der certo, como todos esperamos, será realmente um fato que poderá ser repetido em outros países, deslocando para sempre o eixo de poder de uma classe para outra.
O nascimento do mito
Pode ser por causa do idioma, que já foi comum e está ficando cada vez menos comum. Pode ser pelo interesse que Portugal sempre teve pela colônia, interesse econômico e político, mais tarde transformado em vínculo afetivo e histórico. O fato é que num giro de alguns dias pelo país, um dos muitos que já fiz a trabalho ou por lazer, pude constatar o impacto que a eleição de Lula produziu nas diversas camadas sociais, empresários, povo em geral.Acredito que o mesmo tenha ocorrido em outros países. Mas em Portugal estive em contato com autoridades, intelectuais, garçons e motoristas. Todos, em grau diferente mas com o mesmo espanto e a mesma admiração, louvavam o Brasil pelo fato de ter escolhido para a presidência um ex-operário, sem nenhum diploma escolar, retirante de uma região desolada pela seca.
São raros os portugueses que conhecem em detalhes os nossos problemas políticos, nossas brigas eleitorais e ideológicas. Mas a mídia mundial deu a Lula uma dimensão de mito não apenas popular, o que seria óbvio, mas mito realmente nacional e até mesmo internacional.
Nós, aqui no Brasil, já estávamos acostumados com ele, sua insistência em disputar a presidência. Seria sempre uma possibilidade, uma opção mais ou menos remota, uma vez que na hora do voto, as forças tradicionais se uniriam contra ele.
E aconteceu o contrário. Talvez tenha sido este fato inesperado, a união de tantos setores para eleger um ex-operário de fala rude, que tenha causado em Portugal ao mesmo tempo um pasmo e uma inveja sadia. E certamente, em outros países Lula é considerado um fenômeno e uma esperança.
Se der certo, como todos esperamos, será realmente um fato que poderá ser repetido em outros países, deslocando para sempre o eixo de poder de uma classe para outra.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |