Pensata

Gilberto Dimenstein

28/03/2006

O incrível preço de uma passagem de ônibus

Foram escolhidas na cidade de São Paulo 51 escolas da rede municipal para indicar o nome de bons alunos a fim de concorrer a uma seleção do Colégio Objetivo --os vencedores ganhariam mensalidade gratuita, ajuda de custo e cursinho pré-vestibular. O propósito explícito do colégio: amealhar alunos superdotados. O propósito implícito: destacar-se nos resultados do vestibular.

Foram enviadas centenas de nomes, submetidos a seleções realizadas por psicólogos e por pedagogos. Muitos não passaram porque não eram tão bons alunos e não exibiram desempenho acima da média nos testes de inteligência.

Uma boa parte dos que passaram desta fase não foram para frente, porém, porque não tinham como pagar uma passagem de ônibus para realizar os exames. Perderam, portanto, a chance de ter apoio para desenvolver seus talentos.

Esse é apenas um ínfimo detalhe do principal desperdício brasileiro --o desperdício de talentos. Nada deveria chamar mais a atenção do país do que a quantidade de engenheiros, médicos, advogados, arquitetos, pintores, que estamos deixando de produzir, apenas por falta de apoio.

No lugar deles, nascem assaltantes, traficantes, seqüestradores. Quanto mais inteligentes forem os cidadãos deixados de lado, mais articulados e perigosos serão os criminosos e maior nossa insegurança.

Isso é quanto pode custar uma simples passagem de ônibus.

Comentários desta coluna estão no www.dimenstein.com.br.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

E-mail: palavradoleitor@uol.com.br

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