Pensata

Gilberto Dimenstein

11/07/2006

Vergonha dos paulistanos

Se a cidade de São Paulo fosse civilizada, estaríamos agora perplexos, em clima de escândalo, desses de deixar desorientadas as autoridades --mas nada disso está, nem remotamente, acontecendo.

Foi divulgado o ranking nacional dos testes de conhecimento em matemática e língua portuguesa. Ficamos abaixo de cidades muito mais pobres no Norte e Nordeste, como Teresina, Aracaju e Rio Branco. Não há justificativa para a posição de São Paulo, exceto a falta de empenho e seriedade com que se tratou cronicamente a transmissão de conhecimento entre os mais pobres.

Nós nos orgulhamos de ser uma cidade de ponta, com suas universidades, centros de pesquisa, empresas de tecnologia, do requinte da moda, da culinária, dos cinemas, dos teatros, dos museus. Somos sede das fundações empresariais voltadas à educação e das ONGs.

Mas não soubemos canalizar toda essa inteligência para cuidar mais e melhor das escolas, sem as quais não há inclusão social possível. Não soubemos acompanhar a interrupção de programas ao sabor das mudanças dos prefeitos e dos secretários, com sua vaidade autoral e brigas partidárias. Não soubemos ver que nenhuma criança consegue aprender em lugares com três turnos diurnos. Ou que muitas crianças não aprendem porque têm problemas básicos de saúde como anemia de ferro ou falta de óculos.

Deixamos a responsabilidade nas mãos dos governantes (o que é uma demonstração de irresponsabilidade). Deixamos a educação apenas nas mãos dos pedagogos e educadores e de suas corporações, quando deveria ser um tema de toda a coletividade, a começar dos pais.

Os brasileiros em geral deveriam sentir vergonha desse ranking, afinal fomos mal. Os paulistanos deveriam sentir ainda mais vergonha, pois poderíamos ter feito muito mais do que fizemos.

Se sentíssemos vergonha (o que não está acontecendo) já seria um bom começo.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

E-mail: palavradoleitor@uol.com.br

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