Pensata

Gilberto Dimenstein

13/03/2007

Igreja, coerência e camisinha

Depois de ser atacada pelo presidente Lula em seu discurso sobre a importância do uso da camisinha, a Igreja Católica se defendeu alegando que o estímulo a métodos contraceptivos entre os jovens estimularia a permissividade sexual. Rechaçou a acusação de hipocrisia lançada pelo presidente, afirmando que se trata de uma posição coerente com a idéia da Igreja sobre sexualidade, na qual se prega a "responsabilidade" nos relacionamentos. Eles têm razão: goste-se ou não, é uma posição coerente e deve ser respeitada, uma vez que está baseada em valores e crença em princípios religiosos.

O problema não é a cúpula da Igreja fazer essa defesa. Como o catolicismo deve encarar métodos contraceptivos é um problema dos católicos. Os judeus ortodoxos têm uma série de valores e crenças, muitos dos quais, em minha opinião de judeu, são errados --mas não será ninguém de fora do judaísmo que dirá como devem se comportar os rabinos ou como deveria ser a nova culinária kosher.

O problema é o Estado, laico, aceitar pressupostos religiosos que orientam políticas públicas. Que padres e bispos se posicionem contra a camisinha, eu entendo, apesar de considerá-los retrógrados. Mas que até agora o planejamento familiar tenha sido tão tímido por causa da Igreja Católica é uma irresponsabilidade coletiva --e, na minha opinião, isso sim é um crime contra a vida.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

E-mail: palavradoleitor@uol.com.br

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