Pensata

Gilberto Dimenstein

03/04/2007

A lição de Sobel

Houve um esforço dos formadores de opinião para amenizar o impacto negativo provocado pelo furto de gravatas na imagem do rabino Henry Sobel. Estão certos. O rabino tem um histórico respeitável de serviços comunitários, sempre esteve aberto à causa da tolerância religiosa e da democracia. Se fez o que fez só poderia ter sido vítima de um desequilíbrio psicológico. O melhor seria compreender e ajudar seu tratamento. Por que, porém, não aplicar o mesmo olhar compreensivo a quem não é celebridade e que não tenha prestado nenhum serviço relevante à sociedade?

Há batalhões de adolescentes presos porque cometeram o mesmo deslize do rabino: furto. Como não são ameaça à integridade de ninguém --afinal não usavam armas--, deveriam ser acolhidos, encaminhados, tratados, e não internados. Aliás, cadeia deveria ser em último caso.

Esses jovens podem não sofrer surtos psicológicos, mas são induzidos involuntariamente à marginalidade assim como o rabino foi induzido a se expor levando as gravatas. Essa deveria ser uma das lições do caso Sobel.

PS- Por eu ter freqüentado a CIP desde menino, Sobel sempre fez parte de minha paisagem social. Ele foi daqueles ícones que ajudaram a formar os jovens nos valores da democracia. Não sei se ele conseguirá voltar às suas antigas funções (até porque o caso ajudou os que há tempos queriam prejudicá-lo na comunidade judaica). Mas a imagem que me ficará dele é a do indivíduo que aproximou diferentes religiões, enfrentou o regime militar e sempre colocou o judaísmo a serviço da inclusão.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

E-mail: palavradoleitor@uol.com.br

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