Pensata

Gilberto Dimenstein

20/08/2002

Ciro não está se "lixando" para o mercado

Ao sair ontem do encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes garantiu que iria cumprir os acordos com o FMI. Defendeu a estabilidade da moeda, o respeito aos contratos e a austeridade fiscal. Na prática, está mostrando que não está se lixando para o mercado.

O que aliviou o chamado "mercado" -essa entidade que, nas eleições, parece um ser mitológico- não foram as palavras, mas um gesto. Um gesto sempre pedido pelos empresários para acalmá-los: a indicação de Ciro Gomes para seu staff do economista Alexandre Sheinkmann, um defensor da economia de mercado.

Ciro está percebendo que o destempero e a pose de cavaleiro solitário contra as forças do mal rendem uma imagem de independência -o que tem significado, até aqui, bom desempenho eleitoral. Mas têm efeitos colateriais.

Ele sabe que, se eleito em meio à desconfiança, seu início de governo tende a ser catastrófico, minando-lhe as bases de apoio. Se, de um lado, ele precisa da imagem do rebelde, de outro, necessita de alianças na sociedade e nos partidos. Não quer ser apontado como um terrorista econômico.

Não é o mercado que está domesticando Ciro Gomes, mas a sensação de proximidade com o poder.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

E-mail: palavradoleitor@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca