Gilberto Dimenstein
04/02/2003
Por ser orientado mais pelo marketing e menos pelo rigor técnico, o programa de combate à fome transformou-se num contra-exemplo de política contra a miséria, alvo de críticas e até mesmo de pilhérias.
Descamba para o deboche a criação de comitês para investigar como o indigente vai gastar seu dinheiro, submetido a uma auditoria e obrigado a colecionar documentos e testemunhos sobre sua vida intestinal. Sinceramente, ainda não consegui entender como Lula aprovou tamanha asneira, expondo-se a um desgaste desnecessário, capaz de comprometer sua principal prioridade social. Revela-se aqui um deficiência, grave, de assessoria ou de teimosia preocupante do presidente.
Se o mesmo amadorismo tivesse sido usado na orientação econômica, podem apostar que o dólar já estaria valendo bem mais do que R 4,00 e possivelmente estaríamos discutindo algum tipo de moratória, em meio a fugas de capitais.
No final, repete-se a lógica de que o econômico sempre merece mais seriedade do que o social.
O paradoxo de Lula
O programa "Fome Zero" revelou uma curiosa marca nos primeiros trinta dias de mandato do presidente Lula: o governo está sendo profissional em economia, área em que havia os maiores temores de improvisação, mas amador em questões sociais, a especialidade histórica do PT, incubadora dos melhores programas de renda mínima do país.Por ser orientado mais pelo marketing e menos pelo rigor técnico, o programa de combate à fome transformou-se num contra-exemplo de política contra a miséria, alvo de críticas e até mesmo de pilhérias.
Descamba para o deboche a criação de comitês para investigar como o indigente vai gastar seu dinheiro, submetido a uma auditoria e obrigado a colecionar documentos e testemunhos sobre sua vida intestinal. Sinceramente, ainda não consegui entender como Lula aprovou tamanha asneira, expondo-se a um desgaste desnecessário, capaz de comprometer sua principal prioridade social. Revela-se aqui um deficiência, grave, de assessoria ou de teimosia preocupante do presidente.
Se o mesmo amadorismo tivesse sido usado na orientação econômica, podem apostar que o dólar já estaria valendo bem mais do que R 4,00 e possivelmente estaríamos discutindo algum tipo de moratória, em meio a fugas de capitais.
No final, repete-se a lógica de que o econômico sempre merece mais seriedade do que o social.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras. E-mail: palavradoleitor@uol.com.br |