Pensata

Kennedy Alencar

31/01/2003

Para entender o presidente Lula

É fato que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu partido têm encampado projetos e idéias que antes criticavam.

Mas isso não significa que Lula vá se comportar como um político igual aos outros ou que o PT se revelerá um partido igual aos outros. É injusto com a história do Lula e do PT, além de pura desinformação.

Quando terminou a eleição, dez entre cada dez entendidos de política e economia apostavam que o PT escolheria um ministro da Fazenda no meio empresarial. Aconteceu o contrário. O principal ministério foi entregue a um petista da confiança de Lula, por mais que Antonio Palocci Filho pareça um seguidor de Pedro Malan.

Por que Palocci chegou lá? Porque Lula decidiu que não iria abrir mão de poder depois de lutar tanto para obtê-lo. Hoje, os elogios do FMI e da elite financeira e empresarial a Palocci sinalizam uma escolha acertada. Mas lá atrás soava estranho e inverossímil para muitas pessoas "bem-informadas" ver um médico, e ainda por cima petista, na condução da economia.

Além disso, Lula e Palocci sabem que estarão mortos politicamente se repetirem o malanismo. E o "fiscalismo petista" tem, sim, nuances que o diferenciam da política econômica de FHC. Basta ver que a principal agenda do governo gira em torno do Fome Zero, a prioridade social dos petistas.

Faz pouco tempo, ganhou corpo a possibilidade de a reforma tributária ficar para algum dia distante, agora que Lula chegou ao poder. O presidente fez questão de resgatar o tema que foi uma de suas principais bandeiras de campanha.

Pode ser que Lula não consiga levar essa reforma adiante. Mas ele vai tentar realizá-la. E o motivo é simples: Lula acha que tem que cumprir o que prometeu. Seria mais cômodo, e não faltariam argumentos para tal, dizer que esse tema é complicado demais, que há muita resistência dos governadores à possibilidade de perda de arrecadação, e que a prioridade tem de ser dada à reforma previdenciária.

Lula, porém, trilhou o caminho mais difícil, optando por tentar realizar duas reformas complicadas, o que só aumenta mais as arriscadas expectativas que o presidente cria em torno do eventual sucesso de sua administração.

Por que Lula escolheu apoiar o ex-presidente José Sarney para a presidência do Senado e optou por nomear o ex-adversário Ciro Gomes para um ministério? Porque ele é grato aos dois, que lhe deram apoio na campanha eleitoral em momentos diferentes, e porque Lula é algo emocional e leal aos amigos. E Lula nomeou os dois contra o aconselhamento de gente próxima e importante.

Sem entender a cabeça e o coração de Lula vai ficar difícil entender o que é e o que será o governo do PT, bem como quais são e serão seus acertos e erros.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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