Pensata

Kennedy Alencar

04/07/2003

Lula deve se inspirar em JK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa tomar cuidado para que sua imagem não se vulgarize, diz um importante membro do governo. Desde que os servidores públicos organizaram um protesto contra Lula, em 11 de junho, o presidente passou a ser a figura que mais desgastou o seu governo e ele próprio.

Nos últimos 20 dias, um excesso de improvisos e de eventos levaram Lula a falar mais do que devia, produzindo fatos negativos em série. Exemplos: atacou gratuitamente semana passada os poderes Legislativo e Judiciário e usou nesta semana um boné do MST na hora em que aumentam as invasões e os saques promovidos por grupos sem-terra.

É fato que houve cálculo político na recepção calorosa ao MST. O governo avalia que não tem como controlar o movimento e, portanto, seria melhor seduzi-lo, lembrando que Lula é um aliado e não um inimigo. Mas o fato é que a recepção do episódio do boné, ainda que tenha agradado ao tradicional público petista, trouxe avarias na fatia da sociedade que votou em Lula pela primeira vez no ano passado.

Por "vulgarização de imagem", leia-se: deixar de ser o "Lulinha paz e amor" e passar a transmitir imagem de arrogância, com críticas destemperadas, e de excesso de informalidade para um presidente da República.

A avalanche de discursos do presidente tem dois motivos principais: 1) Ele acha que os ministros, principalmente os petistas, defendem pouco seu governo e tenta preencher esse papel e 2) A ordem presidencial para que todas as chamadas "boas notícias" do governo sejam dadas por Lula, o que o leva a se expor em improvisos.

É momento de o presidente fazer uma auto-crítica, sob pena de dar início antes da hora a um processo de desgaste que pode levá-lo, no limite, a perder autoridade e cacife político.

Membros da cúpula do governo já chegaram a essa conclusão. Cabe a Lula entender que há coisas que não pode fazer e não deve fazer na cadeira presidencial. Isso não significa, porém, deixar de ser um presidente que gosta do contato com o povo e que sabe cativar interlocutores como poucos políticos.

Ouve-se no governo uma recomendação para Lula não se esquecer de JK, presidente que ele próprio já disse admirar. Juscelino Kubitschek combinava o jeito popular, com uma informalidade presidencial elegante e otimista, à enorme capacidade de aceitar críticas, ainda que injustas. É uma ótima recomendação.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca