Pensata

Kennedy Alencar

13/08/2004

"São os financiadores de campanha, estúpido"

É lamentável que a CPI do Banestado tenha atirado para tudo quanto é lado e se reduzido a uma guerra entre petistas e tucanos --especialmente entre o relator, o deputado federal José Mentor (PT-SP), e o presidente da comissão, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).

Mas talvez seja mais lamentável constatar que a unânime comoção do meio político, do governo à oposição, em relação aos excessos da CPI do Banestado seja em muito motivada porque estão na mira membros do mais importante grupo de financiadores de campanhas eleitorais do país (banqueiros e executivos de bancos).

Excelente reportagem de Andréa Michael e Guilherme Barros na Folha no sábado (07/08) mostrou que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Congresso pediu à Receita os dados fiscais de pelo menos 29 banqueiros ou executivos financeiros que enviaram recursos ao exterior entre 1996 e 2002. Há mais de 2.000 sigilos quebrados. Crescem as evidências de abusos.

Ato contínuo, políticos demonstram uma indignação poucas vezes vista em Brasília. Algo ingênuo, um deputado de primeiro mandato perguntou a um experiente parlamentar a razão de tamanha comoção.

"São os financiadores de campanha, estúpido", disse o veterano, numa variação da frase que marcou a eleição do democrata Bill Clinton para presidente dos EUA em 1992.

Naquela eleição, George Bush, pai do atual presidente, Bush filho, não foi reeleito devido a problemas econômicos --apesar da popularidade obtida na Guerra do Golfo (1991). À época, o slogan de campanha de Clinton foi crucial: "É a economia, estúpido!".

Num ponto Mentor tem razão. O erro não é quebrar o sigilo, mas divulgá-lo. Mais: os bastidores da CPI dão conta de que Antero foi favorável à quebra de muitos sigilos, inclusive do "grupo dos 29".

O respeito à privacidade das pessoas e a presunção de inocência são princípios consagrados na democracia. É salutar discutir os limites de uma CPI. Mas convém lembrar que as CPIs têm dado enorme contribuição ao Brasil, como registra a História. A do Banestado ainda tem a sua a dar. Desmoralizá-la interessa a quem usou o antigo banco estatal do Paraná para fazer trambiques.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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