Pensata

Kennedy Alencar

15/10/2004

Serra "Sabichão" versus Marta "Furacão"

O debate da TV Bandeirantes entre os candidatos José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) foi uma excelente amostra do que o eleitor verá a partir de hoje (15/10) no horário eleitoral gratuito. O segundo turno paulistano será entre um candidato que veste o figurino de "Papai Sabe-Tudo" e uma postulante que usa as roupas de "Mamãe vai à luta".

Primeiro ponto positivo: foi um debate de verdade, bem diferente dos realizados no primeiro turno, quando o excesso de candidatos e de regras impediram uma discussão real.

Segundo ponto positivo: Serra e Marta mostraram o que têm de melhor e de pior. E isso ajuda o eleitor a pesar na balança os prós e contras de sua escolha.

Serra foi bem ao demonstrar conhecimento do orçamento municipal e ao usar uma linguagem educada e racional. Mas este perfil algo frio pode lançar dúvidas na cabeça do eleitor sobre a sua sinceridade.

Marta se saiu bem ao criticar duramente Serra, tomando a iniciativa de ataques mais duros e mostrando disposição para lutar com força. Por outro lado, pode ter desagradado os que não gostam de ver sangue.

No primeiro bloco, nenhum dos dois respondeu à pergunta do sóbrio e seguro mediador, Carlos Nascimento. Ele indagou como convencer a voltar à cidade quem saiu por julgar cada vez mais difícil viver nela e como persuadir novos migrantes de que São Paulo ainda vale a pena.

Marta preferiu vender feitos positivos de sua administração. Serra reforçou a principal causa da alta taxa de rejeição da prefeita, falando de taxas e impostos criados pela petista.

O segundo bloco esquentou. Marta bateu duro no vice de Serra, o deputado federal Gilberto Kassab (PFL-SP). Ela lembrou que Kassab fora secretário de Planejamento da gestão Pitta. Disse que, se Serra deixasse de ser prefeito, o resultado seria a "turma do Pitta de volta na cidade de São Paulo". Foi um dos pontos altos da petista, no qual ela rebateu acusações de não saber planejar.

Serra devolveu direitinho, dizendo que um ex-assessor de Kassab participava da gestão Marta. Mas a verdade é que não pareceu muito convencido de sua defesa. Ele próprio não queria Kassab como vice. Partiram do PSDB os torpedos que tentaram derrubar Kassab no início da campanha.

Um excelente momento do tucano foi o questionamento de dados do orçamento: corte de verbas de programas sociais e o curioso montante de R$ 21 milhões para ser gasto pelo gabinete da prefeita em 2005.

Marta bateu muito no PSDB, nos oito anos do governo federal FHC e nos dez anos de poder tucano no Estado. Cobrou resultados na área de segurança. Falou de fracassos, como o apagão de energia de 2001. Ponto para ela.

Em contrapartida, Serra soube passar a impressão de que a prefeita fugia dos temas da cidade e preferia fustigar o seu partido. Ele usou com competência o perfil de bom gerente que conquistou como ministro da Saúde.

Ao encerrar, o tucano destacou sua origem "humilde" para falar que sentira na pele a importância dos "serviços governamentais" na oferta de oportunidades aos mais pobres.

Marta, que assumiu o berço de ouro, bateu na tecla de que administrou para os mais pobres e que estes reconheceram votando nela. Terminou sua despedida com um engasgo de emoção.

Valeu a pena ficar acordado até meia-noite.




Momentos inesquecíveis

Muito boa a frase de FHC, lembrada por Marta: "O problema não é o Serra, mas o diabo que existe nele". O tucano ganhou o único direito de resposta do programa. Como de costume, falou que era "fofoca" da imprensa.

Outro momento interessante veio no final. Comemorando uma suposta vitória, Marta saiu aos pulinhos pelo palco.

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    Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

    E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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