Pensata

Kennedy Alencar

29/10/2004

"Não queria estar na pele do Palocci"

A frase acima é de um membro da cúpula do governo ao comentar as discussões internas deflagradas pela ata desta semana do Copom (Comitê de Política Monetária). O Copom é órgão do Banco Central que se reúne mensalmente para fixar a taxa básica de juros da economia (Selic), hoje em 16,75% ao ano.

A ata, que já jogava lenha na fogueira da inflação ao ameaçar com novas altas da Selic, teve seu efeito potencializado pela virulenta nota que a Petrobras divulgou ao ler que o Copom acha que ela tem estimulado o aumento dos preços por conta de uma política equivocada de reajustes.

A polêmica expôs uma divisão que voltou a crescer no governo entre os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil). Divergências entre os dois são comuns e antigas, desde o início da gestão Luiz Inácio Lula da Silva.

No momento, estão num nível maior.

Para Palocci, a Petrobras deveria repassar de pronto a recente alta do barril de petróleo no mercado internacional para manter sua lucratividade e a credibilidade da política econômica. Já Dirceu crê que a Petrobras deve ser instrumento de política econômica. Ou seja, segurar seus preços se o governo assim julgar necessário. O presidente da Petrobras, o ex-senador José Eduardo Dutra, é partidário do grupo de Dirceu.

Essa divisão revela que há um caldeirão de pressões e problemas por trás da aparente calma e unanimidade que o governo sempre busca difundir em relação à política econômica.

Na ala de Dirceu e até entre alguns membros do time de Palocci, porque existem ainda divergências em maior ou menor grau na própria equipe econômica, avalia-se que o Copom está minando a retomada do crescimento econômico por se comportar de forma ortodoxa em excesso e, nesta semana, espalhafatosa em excesso.

O mercado sempre acha que o Copom dá o piso das expectativas.

Se ele próprio está tão assustado com uma suposta ameaça inflacionária, o mercado responderá divulgando expectativas ainda mais sombrias. E isso se torna um círculo vicioso que talvez encontre mais explicação na política do que na economia real.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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