Pensata

Kennedy Alencar

25/02/2005

Lula perde chance de ficar calado

A pensata de hoje deveria versar sobre a tremenda e perigosa sede com que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tem ido ao pote ao levar adiante a proposta de aumento indecente do salário dos deputados federais. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a mais desastrada e irresponsável declaração desde que assumiu o governo.
Pagará caro por ela.

Resumindo, Lula disse ontem (24/02) que abafou uma denúncia de corrupção do governo anterior, o do tucano Fernando Henrique Cardoso. O petista afirmou que recebeu de um "alto companheiro" a informação de que a "corrupção" deixara "quebrada" uma instituição federal. Reação presidencial: não diga isso a mais ninguém.

Lula tem três opções:

Ou prova o que disse e arruma uma bela desculpa para não ter revelado tal fato até hoje. Ou se desculpa imediatamente, dizendo ter sido leviano para amenizar a trapalhada. Ou será acusado de ter prevaricado, como disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), dando palco a uma desgastante batalha política e jurídica.

Das três opções, a mais provável é a de recuo envergonhado, já diziam os mais sensatos no Palácio do Planalto.

Como o presidente da República costuma falar que a imprensa "esquenta" notícias, exagera nas versões, seguem as declarações literais dele para que o leitor tire suas conclusões:

"Eu me lembro de um momento, logo no início do governo, quando um alto companheiro meu, de uma função muito importante, foi prestar contas de como tinha encontrado a instituição em que ele estava trabalhando. E ele me dizia simplesmente o seguinte: "Presidente, a nossa instituição está quebrada, estamos falidos. O processo de corrupção que aconteceu, antes de nós, foi muito grande. Algumas privatizações que foram feitas em tais lugares levaram a instituição a uma quebradeira" (...). Eu disse ao meu companheiro: "Olha, se tudo isso que você está me dizendo é verdade, você só tem o direito de dizer para mim. Para fora, feche a boca e diga que a nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento deste país".




FHC tira petista do sério

Lula tem cometido seguidamente o grave erro de trazer o ex-presidente Fernando Henrique para a ribalta. O atual presidente se incomoda com cada espirro crítico que o antecessor dá. Parece que não se lembra de como FHC suportou críticas justas e injustas --muitas delas vindas do PT e do próprio Lula. Presidente da República tem de ter o couro duro.

Se apenas Lula tivesse algo a perder, tudo bem. Mas é o país que ele governa que pode se dar mal com esses "destemperos", para ser educado. A economia não vai à breca por causa disso. Mas, no mínimo, é um vexame em termos de costumes políticos. Afinal, Lula e FHC são graduados quadros de nossa política.

Hoje, as pesquisas mostram que Lula venceria FHC nas eleições de outubro do ano que vem. Mas, no atual ritmo de erros, o petista pode perder para um tucano. Até outubro de 2006, muito água passará debaixo da ponte. Repetindo Lula: em política, colhe-se o que se planta.

Já FHC, pelos sinais que vem emitindo, flerta com o sonho de ser candidato de novo no cenário em que Lula esteja indo muito mal.

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    Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

    E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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