Pensata

Kennedy Alencar

26/08/2005

Ainda "vivo", Lula está no jogo

A cúpula do governo demonstrava apreensão no começo do dia de ontem (quinta-feira, 25/08), cujo desfecho julgava fundamental para os desdobramentos da crise política. Havia dois temores principais: o depoimento do advogado Rogério Buratti à CPI dos Bingos ferir novamente o ministro Antonio Palocci Filho e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um premeditado discurso de improviso sobre a crise, dar uma derrapada e cometer erros.

Ao final dia, porém, o saldo foi considerado positivo por Lula e auxiliares. "Tivemos arranhões, mas atuamos de forma coordenada ao longo da semana. Estamos começando a respirar", disse um ministro. "Otimismo moderado" foi a expressão de outro membro do governo.

Segundo auxiliares, o discurso do presidente na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social mostrou que ele "está vivo". No discurso, Lula bateu na oposição, deu a entender que não desistirá fácil da reeleição e reforçou a aposta na manutenção da atual política econômica para tentar superar a crise. Ou seja, o presidente deu sinais claros de que ainda está no jogo e que lutará para mostrar que seu governo não acabou.

Desde a entrevista coletiva do ministro da Fazenda no último domingo (21/08), quando Palocci rebateu acusações de Buratti e abordou a crise política, o governo passou a elaborar, pela primeira vez na crise, uma estratégia mais "agressiva". Até então, o governo só reagia sem tentar se antecipar aos fatos, apesar de poucas exceções (por exemplo, o pronunciamento no qual Lula se disse "traído" e "indignado").

A partir da entrevista de Palocci, porém, Lula reuniu os chefes dos Três Poderes. Fez um pronunciamento premeditado e mais forte que o anterior --por ora, está suspenso novo discurso em rádio e TV. O governo atuou para que a oposição não levasse Buratti a bater mais duro em Palocci. Os "arranhões", na avaliação do governo, ocorreram precisamente no depoimento de Buratti.

Ao mesmo tempo em que ele disse não ter "prova" contra Palocci, a quem chamou de "íntegro", forneceu um roteiro de investigação para a oposição ainda dar dor de cabeça ao ministro, que talvez ainda tenha de ir depor na CPI. Palocci passou o dia no Palácio do Planalto. Com Lula, viu trechos do depoimento de Buratti. Para Lula e Palocci, Buratti não trouxe "fatos novos".




O fator Dirceu

Em outra frente de batalha, Lula entrou diretamente nas articulações para o PT dar respostas à crise. O presidente, por exemplo, ainda não desistiu de convencer o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a deixar a chapa dos moderados que concorre nas eleições internas do partido. Ele também articula a expulsão do ex-tesoureiro Delúbio Soares nos dias 3 e 4 de setembro, quando o Diretório Nacional se reunirá.

Lula deverá ter uma conversa direta com Dirceu. Pretende dizer que sua saída da chapa não é "condenação antecipada", mas um reconhecimento de que deve abrir caminho para uma nova direção. Lembrará que o ex-presidente do PT José Genoino fez o mesmo e continua filiado ao PT.

A intenção é vender a eventual desistência como "gesto de grandeza" para preservar o PT, ao qual se manteria filiado. Com jeito, Dirceu aceitaria sair da chapa, diz ministro ainda próximo dele.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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