Pensata

Kennedy Alencar

11/11/2005

Lula descarta "alternativas" a Palocci

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, continua a ser o único pilar de sustentação política e econômica do governo Lula ou pode ser substituído sem grande tempestade? Para Lula, o governo acaba se Palocci cair.

Com esse diagnóstico, o presidente convocou ontem (quinta-feira, 10/11) Palocci e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para uma reunião de manhã na Granja do Torto. Deu reprimenda em ambos, dizendo que não deseja que discutam "economia pelos jornais". Ordenou que evitem "trombada" pela imprensa. Pediu "unidade" numa hora de crise.

É inacreditável que em meio à mais grave crise política de seu governo, Lula ainda tenha de dar recados desse tipo. Evidencia a incapacidade da cúpula de sua administração e do próprio PT para administrar momentos difíceis e gerenciar o país.

Numa hora de crise, o primeiro mandamento de um governo deve ser o de não agravá-la. Dilma, porém, tem batido duro no ministro da Fazenda via imprensa, reuniões de governo e encontros com parlamentares.

Numa versão benevolente, ela ataca o colega por falta de traquejo político. Numa versão maledicente, por sentir a fraqueza atual de Palocci e tentar virar o debate econômico a seu favor. Talvez as duas versões sejam complementares.

Palocci chegou a avaliar a possibilidade de deixar o cargo. "Não sei se estou mais ajudando o país [ficando na Fazenda]", disse ao presidente, que se negou a pensar em sua saída. Para Lula, sua gestão acabaria com a queda do ministro da Fazenda.

Mesmo substituído por um técnico da atual equipe econômica, como o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, ou Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, Palocci faria falta essencial, pensa o presidente. Aos poucos, esse técnico seria engolido pelo PT. E junto a credibilidade econômica.

Se viesse a ser substituído por uma alternativa ainda mais ortodoxa, como o deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP) ou o economista Afonso Celso Pastore, Palocci faria muito mais falta, na opinião de Lula. Haveria uma guerra aberta do novo ministro com o PT. Outro complicador: dificilmente Lula entregaria a Fazenda a alguém de fora do seu partido.

Um nome que vem se colocando nos bastidores como candidato a substituto de Palocci é Guido Mantega, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Apesar de petista, não tem a densidade política de Palocci. Da turma de Dilma, assustaria o mercado. Teria de ser mais ortodoxo do que Palocci para conquistar confiança, acredita o presidente.

Por isso, Lula segurará Palocci até quando puder. Se o perder, avalia que caminhará para um final de governo melancólico. E jogará no lixo a chance de reeleição.




Me dá um dinheiro aí

Em jantar recente com a bancada de senadores do PMDB, Dilma queimou Palocci pesadamente. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), interessado em ampliar gastos públicos (principalmente as liberações para a sua base política), não se fez de rogado. Bateu duro no ministro. Disse que ele não cumpre acordos e pediu recursos --recentemente, liberou milhões para prefeitos de Alagoas investigados pela Polícia Federal.

Se Palocci atender aos pleitos de Renan, há risco de quebra do país, brincam parlamentares que conhecem o apetite fisiológico do presidente do Senado.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca