Pensata

Kennedy Alencar

18/11/2005

Palocci começou a incomodar Lula

Dois senadores que acompanhavam o depoimento do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) no Congresso na última quarta-feira (16/11) fizeram comentários que podem ser resumidos assim: quanto mais Palocci falava, mais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) diminuíam de tamanho.

"O Lula devia proibir o Palocci de falar. Pega muito mal para ele. O Palocci é muito bom", dizia, aos risos, um oposicionista. Outro, mais sério, argumentava que o ministro da Fazenda tinha postura de "estadista" e que Lula na recente entrevista ao Roda-Viva não alcançou nem de longe desempenho parecido. O mais animado e irônico concluiu: "O Palocci deixa o resto do governo do tamanho de um grão de areia".

Difícil discordar dos dois senadores levando em conta a ojeriza de Lula em relação à imprensa e a falta de habilidade, para ser elegante, da ministra da Casa Civil ao falar do colega da Fazenda para jornalistas e senadores do PMDB.

Curiosamente, Lula não cumpriu um acerto feito com Palocci no final de semana. O presidente prometeu dar um sinal público da importância do ministro para o governo e a estabilidade econômica. Em dois dias de expediente pós-feriadão, esse sinal não veio.

A imagem de homem-forte foi construída por Palocci antes da crise política. Com a crise, ele virou indispensável, o último bastião do governo. É visto como o único ministro que comanda uma área que funciona no governo, a econômica. Isso passou a incomodar Lula e colegas da Esplanada dos Ministérios.

Acontece agora com Palocci efeito semelhante ao que ocorreu com o ex-ministro José Dirceu, que adorava posar de homem-forte do governo quando estava na Casa Civil. O ministro da Fazenda é poderoso e não gosta de mostrar isso. Mas a crise realçou sua importância.

Isso talvez explique por que Lula ainda não fez a tal massagem no ego de Palocci. O presidente dá evidências de que não deseja fortalecer demais Palocci. Não quer que ele vire dono do governo. Mas o ministro, mesmo ferido por acusações de corrupção feitas por ex-auxiliares, ainda consegue passar a imagem de que é o melhor político desta administração.

Lula, Dilma e o PT terão de dormir com um barulho desse. A alternativa é perder as eleições de 2006. Palocci continua a ser a melhor aposta para Lula se reeleger, Dilma se manter na Casa Civil e o PT não ser varrido do mapa.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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