Pensata

Kennedy Alencar

16/12/2005

Governo Lula virou maior bagunça

O governo Lula tem dado prova de que as coisas podem sempre piorar. Nas últimas semanas, a administração petista virou a casa da Mãe Joana. Num sinal preocupante, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está perdendo respeito de ministros, do seu partido e dos aliados. A oposição nada de braçada.

O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) diz que o governo não tem "objetivos". Detalhe: ele está há três anos com Lula. Deve saber do que está falando.

O ministro Luiz Marinho (Trabalho) detona de público a política econômica e tem opinião sobre todas as áreas do governo. Amigo do peito de Lula, fala como se mandasse os recados que o presidente da República não pode ficar enviando publicamente.

O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, diz que os soldados não estão conseguindo fazer as três refeições por dia, promessa maior de Lula ao assumir. Bateu duro no governo e no presidente aos quais é subordinado.

Saem pesquisas sobre a sucessão presidencial apontando o tucano José Serra na liderança do primeiro turno. Pela primeira vez, Lula perde a dianteira na fase inicial. No mesmo dia, o presidente diz que é difícil governar. No dia seguinte, discursa de cara abatida. Ou seja: passou recibos que não deveria passar. Sentiu o golpe.

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), alçado ao posto por obra do Palácio do Planalto, não resiste a pressões de líderes e da oposição. Embarca na convocação extraordinária do Congresso, ajudando os parlamentares a receber uns trocados a mais em tempos pós-mensalão.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem dado declarações públicas muito duras em relação ao governo. Forçou Aldo a aderir à convocação extraordinária. Pressiona pela liberação de verbas. Pedido pequeno de Renan é pedido de R$ 20 milhões, R$ 30 milhões. Quer recursos para projetos em suas bases eleitorais.

O vice-presidente José Alencar chama de "crime" a política monetária.

O PT resolveu criticar ainda mais a política econômica. Lula simplesmente parece ter perdido o controle do próprio partido. Os aliados tradicionais de Lula, PSB e PC do B, colocam a faca no peito do presidente: ou cai a verticalização ou Lula talvez não poderá contar com o apoio oficial deles em 2006. Registro: será um retrocesso o final da regra que induz os partidos nos Estados a repetir a coligação da eleição presidencial. Os aliados também querem mudar a política econômica para ter "argumentos" para reeleger Lula. Conclusão: hoje não têm tais "argumentos".

Lula poderá até se recuperar e obter um segundo mandato em 2006. O quadro político no Brasil muda rapidamente. Mas, nesse ritmo, nessa bagunça em que se transformou seu governo, seu partido e sua base de apoio no Congresso, não parece ser a tendência para o ano que vem. Se não retomar o controle do governo, do partido e dos aliados, Lula chegará a 2006 ainda mais fraco.




Vexame federal

A "absolvição" de Romeu Queiroz pela Câmara na última quarta-feira (14/12) é daquelas decisões sobre as quais fica difícil fazer comentários educados. O deputado federal do PTB mineiro foi um dos sacadores do valerioduto (R$ 350 mil). Por 250 votos a 162, a Câmara rejeitou a sua cassação, como recomendava o Conselho de Ética.

Trata-se de episódio semelhante ao da eleição de Severino Cavalcanti para presidente da Câmara em fevereiro passado, quando todos deram um tiro no pé. Governistas e oposicionistas.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca