Pensata

Kennedy Alencar

31/03/2006

Palocci deixa boa herança a Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu muito do ponto de vista pessoal para tirar Antonio Palocci Filho da Fazenda. Bem mais do que na demissão de José Dirceu da Casa Civil no ano passado.

O presidente perdeu o seu melhor quadro político, que caiu por seus próprios erros, sendo o principal um inadmissível abuso de poder na democracia.

Dizer que Lula está só é algo exagerado. Sobraram ainda auxiliares de peso, mais experientes, de couro curtido, o que ajuda na peleja. Mas é fato que a antiga cúpula do PT se foi. E o presidente terá de reconstruir o seu estado-maior para sonhar com um eventual segundo mandato.

É correta a previsão de que a campanha eleitoral será sangrenta. Soa razoável pensar que haverá complicações políticas no Congresso para o próximo presidente, seja ele Lula ou o tucano Geraldo Alckmin. O grupo perdedor poderá cair na tentação de estender a atual guerra para além das urnas, o que seria miopia política.

No entanto, o cenário econômico pós-Palocci é promissor, apesar dos espirros do mercado com a escolha de Guido Mantega. Auxiliar próximo e fiel a Lula, Mantega amadureceu nos cargos que ocupou (Planejamento e BNDES). Poderá surpreender positivamente. Palocci deixa uma boa herança econômica para o presidente e o país. Isso facilitará a missão do sucessor.

Na economia, o Brasil fez um profundo ajuste de suas contas externas nos últimos três anos. Há problemas (juros e real valorizado), mas o país está preparado para ingressar num longo período de crescimento sustentado num patamar entre 4% e 5%. O desafio de Lula é ser ele a surfar nessa onda.

Se o presidente sobreviver à atual tormenta e for reeleito, tarefa que não será fácil, terá a chance de ser um presidente melhor do que no primeiro mandato. Episódios duros para que aprendesse e amadurecesse não faltaram. Lula precisará tirar lições de seus erros, a maioria políticos. E deverá reconstruir pontes com a oposição. Algumas ainda existem firmes. O governador Aécio Neves (PSDB-MG), por exemplo, é uma delas.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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