Pensata

Kennedy Alencar

13/04/2006

Ministério Público decepciona ao investigar "mensalão"

No começo do ano, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, dizia em conversas reservadas que a investigação do Ministério Público a respeito do "mensalão" produziria mais resultados do que as CPIs.

Tornada de conhecimento público nesta semana, a denúncia do procurador-geral não avançou um milímetro em relação às investigações da CPI dos Correios. Em sua defesa, pode-se dizer que Souza fez um relatório mais bem escrito e contundente do que o elaborado pela CPI. Deu nome aos bois, falou claramente em "formação de quadrilha" e "organização criminosa" ao se referir à antiga cúpula do PT.

Como denúncia que precisará se sustentar juridicamente ao ser analisada pelo Supremo Tribunal Federal, Souza e sua equipe elaboraram uma bela peça política. Ele e seus auxiliares jogaram a batata quente no colo dos magistrados.

Os repórteres Rubens Valente e Marta Salomon, que acompanham em detalhes as investigações do mensalão, mostraram na versão impressa da Folha que, no que se refere ao ex-ministro José Dirceu, o procurador-geral se limitou a usar as informações colhidas nas investigações políticas do Congresso. Não fez uma investigação a mais.

No texto da denúncia, não consta que tenha pedido escuta telefônica de Dirceu ou dos 39 indiciados. Podia ter colocado para quebrar. Não o fez.

Nas CPIs, seja por açodamento, incompetência ou interesse político de todos os lados, produz-se muita espuma. Souza também produziu bastante. Consta que dizia que não iria manchar a biografia. Ao denunciar 40 pessoas, parece que agiu duramente e fica bem na foto.

No entanto, caberá ao Supremo dizer se há provas contra Dirceu ou não. Pelo relatório de Souza, o ex-ministro da Casa Civil pode dormir tranqüilo. O procurador-geral não teve a coragem de assumir que não há provas contra Dirceu. Uma coisa é a condenação política merecida que o deputado sofreu. Congresso e CPIs têm caráter político e legitimidade para agir assim. A Procuradoria Geral tem de se concentrar nas questões jurídicas.

É muito estranho, por exemplo, que o procurador-geral tenha tomado depoimentos secretos de Marcos Valério mais de uma vez e não consiga apresentar um novo deputado beneficiado pelo "mensalão". Os nomes de sua denúncia são os mesmos revelados pelas CPIs, Valério e a imprensa.

Ora, para quem cercava com aura de mistério sua investigação e prometia ir além das investigações congressuais, o procurador-geral da República produziu um canhão político e uma bala de festim jurídica. Decepcionante.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca