Pensata

Kennedy Alencar

28/04/2006

Lula fará balanço de governo na TV

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um pronunciamento oficial em rádio e TV no feriado de 1º de Maio para faturar politicamente o aumento do salário mínimo de R$ 300 para R$ 350 a partir de abril. O discurso servirá de oportunidade para uma prestação de contas de 40 meses de governo em tom otimista, destinada a fortalecer seu cacife para tentar a reeleição em outubro.

Lula reconhecerá que faltaria muito a realizar, mas que até agora o seu governo teria sido o que mais fez pelos mais pobres. Falará que uma série de indicadores econômicos mostrariam que o país entrou numa longa fase de crescimento.

Um exemplo do que o presidente dirá no rádio e TV na próxima segunda-feira foi dado ao chegar nesta quinta (27/04) à sede do STF (Supremo Tribunal Federal) para a posse da primeira mulher a presidir o tribunal, Ellen Gracie. Lula foi indagado sobre qual seria a sua mensagem de 1º de Maio.

Resposta: "Acredito que nós vamos ter um dos 1º de Maio melhores das duas últimas décadas. É importante lembrar que eu fui dirigente sindical durante muito tempo e durante praticamente 20 anos o movimento sindical lutou e dificilmente a gente conseguia fazer acordo acima da inflação, da década de 80 a praticamente ao ano 2000."

Mais uma declaração pública do presidente já baseada no discurso que fará na TV: "Nestes últimos três anos, sobretudo este ano, 90% dos acordos salariais foram feitos acima da inflação. O salário mínimo foi acima da inflação [subiu de R$ 300 para R$ 350] e bem acima da inflação. E os aposentados receberam um aumento real de salário que havia muito tempo não recebiam."

Na rápida e tumultuada entrevista, Lula disse que, apesar dos avanços, o governo ainda precisa recuperar algumas "dívidas seculares" com os trabalhadores. "Vai ser um 1º de maio bom. E obviamente nós sabemos que sempre precisa melhorar mais porque nós temos dívidas seculares com o trabalhador brasileiro. E que nós precisamos ir recuperando elas [dívidas] aos poucos, na medida em que a economia vai crescendo", disse o presidente.

*

Planalto avalia que crise esfriou

O pronunciamento de 1º de maio vem sendo discutido reservadamente pela cúpula do governo e do PT. Dirigentes petistas o consideram uma espécie de ponto de partida para outra fase do governo e da campanha. Avaliam que a crise do "mensalão" estaria perdendo força e que o presidente terá dois meses pela frente para inaugurar obras em viagens pelo país e promover solenidades em Brasília para anúncios do "pacote de bondades" do ano eleitoral.

Para Lula e a cúpula do PT, estaria chegando ao final a "agenda negativa" do mensalão. A CPI dos Correios concluiu seu relatório sem acusar o presidente. A Procuradoria Geral da República denunciou a antiga cúpula do PT por formação de quadrilha para tentar manter o partido no poder, mas poupou Lula. E a CPI dos Bingos tem sido dominada pelo governo nas últimas semanas, operação comandada pelo próprio Lula e que será mantida.

Para Lula e o PT, as dificuldades que o pré-candidato tucano a presidente, Geraldo Alckmin, tem enfrentado para consolidar a aliança entre PSDB e PFL levam a oposição a gastar energia para resolver problemas próprios, o que favoreceria o governo.

Lula pretende assumir a sua candidatura à reeleição apenas no fim de junho. Até lá, quer se dedicar a uma "agenda positiva" tentando evitar o carimbo de que age como candidato. Em junho, com Copa do Mundo, a política perderá espaço no noticiário. A partir dessa data, aguardará o dia 15 de agosto, quando terá início o horário eleitoral gratuito. Então Lula avalia que terá espaço para defender seu governo na TV contra nova leva de ataques pesados da oposição.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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