Pensata

Kennedy Alencar

05/05/2006

Acabou a candidatura Garotinho

O PMDB não é um partido de santos. Confederação de caciques regionais, trata-se de uma legenda que usa o seu tremendo poder congressual para obter cargos e verbas nos governos, quaisquer governos. Com bancadas expressivas na Câmara e no Senado, o PMDB é um partido essencial à chamada governabilidade de um presidente. Mas até entre peemedebistas há limites para a empulhação.

A cúpula do partido considera que o resultado da greve de fome do ex-governador do Rio Anthony Garotinho foi matá-lo politicamente na atual eleição presidencial. Sem consultar o partido, Garotinho tomou a decisão em resposta a acusações de uso de recursos financeiros irregulares na sua pré-campanha. A greve de fome foi reprovada pelos caciques peemedebistas, sejam eles das alas governista ou oposicionista.

Em conversas reservadas, dirigentes do PMDB dizem que Garotinho se inviabilizou de vez. Acham absurda a exigência de supervisão internacional das eleições --idéia que julgam expor o PMDB ao ridículo, pois não existe nenhuma ameaça à lisura do pleito. Consideram tergiversação o pedido de espaço proporcional nos meios de comunicação para responder à suposta conspiração contra sua candidatura.

Os caciques peemedebistas não acreditam nessa conspiração, apesar de dizerem que houve exageros da imprensa, como a capa da revista "Veja" na qual o evangélico Garotinho aparece com chifres e rabo de capeta.

A demonização de pessoas, até mesmo de criminosos, é um recurso de gosto duvidoso, para dizer o menos. Mas, apesar de eventuais exageros, Garotinho deveria é dar respostas convincentes às denúncias. Não criar o que os peemedebistas e meio mundo julgam um factóide diversionista. Homens públicos estão sujeitos a críticas, justas e injustas. Faz parte da profissão que abraçaram.

A candidatura presidencial do ex-governador do Rio, portanto, acabou no que depender da maioria dos dirigentes do PMDB. A única chance de Garotinho ressuscitar seria uma subida improvável nas pesquisas como resultado da greve de fome. Se assumir o segundo lugar nos levantamentos, superando o tucano Geraldo Alckmin, pode ser que o partido se renda a ele. Mas essa virada parece improvável.

Em pré-convenção em 13 de maio, a maioria das seções peemedebistas dirá não ao projeto presidencial do ex-governador do Rio. Como a convenção que vale para efeito legal é a de junho, Garotinho tem até o mês que vem para tentar renascer na disputa presidencial. Será uma tremenda e surpreendente façanha se o fizer. A pré-convenção de 13 de maio foi marcada justamente para enterrar a sua candidatura. A greve de fome só a sepultou antes da hora.




Itamar e verticalização

O ex-presidente da República Itamar Franco, que também tem dito que poderá ser candidato a presidente se o PMDB quiser, não é levado a sério pela maioria dos dirigentes do partido. Avalia-se que Itamar deseja ser candidato ao Senado por Minas. E usaria a hipótese de concorrer ao Palácio do Planalto somente para aumentar o seu cacife no Estado.

Nesse cenário, consolida-se cada vez mais a possibilidade de o PMDB não ter candidato próprio ao Planalto. A tendência da maioria do partido é buscar o maior número possível de coligações estaduais. Com a verticalização, regra que restringe a liberdade de alianças, uma candidatura à Presidência impediria algumas coligações.

Hoje, são remotas as possibilidades de o PMDB fazer um acerto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou um acordo com Alckmin. Governistas preferem priorizar as eleições estaduais --a fim de fazer alianças que vitaminem suas bancadas nas Câmara e no Senado. O mesmo raciocínio vale para os oposicionistas que andaram conversando com Alckmin.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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