Kennedy Alencar
09/06/2006
Agora, a PF (Polícia Federal) recebeu a tarefa de continuar a investigação dos crimes contra o patrimônio público, de formação de quadrilha e de corrupção de menores. Entre as agressões filmadas detalhadamente, uma chamou maior atenção. A cena de uma moça de 21 anos, Francielli Denizia Asêncio, destruindo terminais de informação com um pedaço de concreto pendurado numa ferragem.
De piercing na sobrancelha e tatuagem na região lombar, Francielli estava vestida como uma jovem de classe média. Classe média bem baixa, como mostraria depois a imagem da casa de sua família em Uberlândia. Mãe de uma menina de cinco anos, interrompeu o segundo ano do segundo grau para se unir ao MLST. Morava havia três meses no acampamento Unidos na Luta, perto de sua cidade.
Francielli foi a responsável pela metade do prejuízo patrimonial da invasão --R$ 77 mil dos R$ 150 mil estimados pela Câmara. Por quê?, perguntaram os repórteres. Resposta: "Não sei explicar. Foi uma coisa errada. Aconteceu de imprevisto".
Francielli já é bem crescida para saber o que faz. Seria fácil e politicamente correto torná-la vítima da falta de opção de parcela da juventude brasileira, apesar de isso talvez ter um pouco a ver com sua atitude. E seria cínico não tentar compreender o que leva uma moça que não é uma sem-terra clássica a participar com tanta fúria de um ato de vandalismo e de desrespeito à democracia.
Palpite: a desmoralização gradual do Legislativo, que tem salvado a pele de mensaleiros e sanguessugas, ajuda a criar um ambiente que facilita explosões como a de terça-feira.
O ataque de Francielli talvez tenha sintetizado o desprezo de boa parte da população pelo Congresso real que a representa. Nem ela sabia explicar de onde veio a faísca para tanta fúria. Diante da oportunidade (a invasão), explodiu uma bomba contra a política e os políticos.
Que o episódio sirva de lição ao governo e à oposição. Erra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao menosprezar o mensalão, desafiando a oposição a exibir as "torturas" das CPIs na TV. Erra o PSDB ao tentar carimbar o PT como dono do governo mais corrupto da galáxia.
Não há dúvida de que o Brasil melhorou sob FHC e Lula. Melhora pequena e relativa para tanta demanda reprimida, mas melhora. É justo reconhecer.
No entanto, se insistirem numa guerra de desmoralização mútua pelos próximos anos, petistas e tucanos correrão o risco de patrocinar um tremendo retrocesso histórico. Apesar da chance de protagonizar nossa política contemporânea, PT e PSDB poderão jogar fora uma das melhores oportunidades que o Brasil já teve de dar um salto de qualidade definitivo, mudando seu patamar social, econômico e político.
E a História costuma julgar os fracassados com crueldade.
Francielli, a fúria e o fracasso
A Polícia Judiciária autuou 507 pessoas pela invasão da Câmara na terça-feira (06/06). Identificou 42 pessoas que teriam tido relação direta com a depredação das dependências do Legislativo, entre elas 11 líderes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra).Agora, a PF (Polícia Federal) recebeu a tarefa de continuar a investigação dos crimes contra o patrimônio público, de formação de quadrilha e de corrupção de menores. Entre as agressões filmadas detalhadamente, uma chamou maior atenção. A cena de uma moça de 21 anos, Francielli Denizia Asêncio, destruindo terminais de informação com um pedaço de concreto pendurado numa ferragem.
De piercing na sobrancelha e tatuagem na região lombar, Francielli estava vestida como uma jovem de classe média. Classe média bem baixa, como mostraria depois a imagem da casa de sua família em Uberlândia. Mãe de uma menina de cinco anos, interrompeu o segundo ano do segundo grau para se unir ao MLST. Morava havia três meses no acampamento Unidos na Luta, perto de sua cidade.
Francielli foi a responsável pela metade do prejuízo patrimonial da invasão --R$ 77 mil dos R$ 150 mil estimados pela Câmara. Por quê?, perguntaram os repórteres. Resposta: "Não sei explicar. Foi uma coisa errada. Aconteceu de imprevisto".
Francielli já é bem crescida para saber o que faz. Seria fácil e politicamente correto torná-la vítima da falta de opção de parcela da juventude brasileira, apesar de isso talvez ter um pouco a ver com sua atitude. E seria cínico não tentar compreender o que leva uma moça que não é uma sem-terra clássica a participar com tanta fúria de um ato de vandalismo e de desrespeito à democracia.
Palpite: a desmoralização gradual do Legislativo, que tem salvado a pele de mensaleiros e sanguessugas, ajuda a criar um ambiente que facilita explosões como a de terça-feira.
O ataque de Francielli talvez tenha sintetizado o desprezo de boa parte da população pelo Congresso real que a representa. Nem ela sabia explicar de onde veio a faísca para tanta fúria. Diante da oportunidade (a invasão), explodiu uma bomba contra a política e os políticos.
Que o episódio sirva de lição ao governo e à oposição. Erra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao menosprezar o mensalão, desafiando a oposição a exibir as "torturas" das CPIs na TV. Erra o PSDB ao tentar carimbar o PT como dono do governo mais corrupto da galáxia.
Não há dúvida de que o Brasil melhorou sob FHC e Lula. Melhora pequena e relativa para tanta demanda reprimida, mas melhora. É justo reconhecer.
No entanto, se insistirem numa guerra de desmoralização mútua pelos próximos anos, petistas e tucanos correrão o risco de patrocinar um tremendo retrocesso histórico. Apesar da chance de protagonizar nossa política contemporânea, PT e PSDB poderão jogar fora uma das melhores oportunidades que o Brasil já teve de dar um salto de qualidade definitivo, mudando seu patamar social, econômico e político.
E a História costuma julgar os fracassados com crueldade.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos. E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br |