Pensata

Kennedy Alencar

01/09/2006

As quatro fases de González

Responsável pelo marketing da candidatura Geraldo Alckmin, o jornalista Luiz González sofre desde abril fortes pressões de setores do PSDB e do PFL para bater duro no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta semana, começou o bombardeio.

Mera coincidência. González segue à risca um plano que apresentou a Alckmin logo depois de o ex-governador ter sido indicado candidato a presidente pelo PSDB. Única e fundamental exigência: autonomia total para executar um plano em quatro fases.

Em primeiro lugar, a fase "Pinda", a da janela do quarto de infância e da comida da Nhá. Alckmin deveria fixar sua imagem como alternativa a Lula de maneira simpática. Antes do início do horário eleitoral gratuito, em 15 de agosto, era conhecido por cerca de 40% do eleitorado.

Era importante Alckmin virar o "Geraldo gente", destacando o prenome popular em detrimento do sobrenome incomum e com pinta de elite se comparado a Lula da Silva. Esta fase pretendeu dizer ao eleitor que Geraldo é tão povo quanto Lula.

A fase número 2: "Geraldo, o político completo". Jovem vereador em Pindamonhangaba, prefeito da cidade do interior paulista, deputado federal, vice-governador do mítico Mário Covas, governador de São Paulo. E, enfim, candidato à Presidência.

Nesta fase, começou o leve contraponto a Lula. Mostrar um candidato que passou por muitos cargos contra outro que, exceto o mandato de deputado federal que detestava, chegou diretamente à Presidência sem experiência administrativa. O jingle tucano já falava em um Brasil decente, numa alusão ao escândalo do mensalão.

A terceira fase mostraria que o Geraldo das fases 1 e 2 teria feito em São Paulo um governo superior ao de Lula na Presidência. Daí o Dose Certa, o Renda Cidadã, a geração de empregos, a economia vigorosa de São Paulo etc. Com honestidade, Geraldo uniria as realizações sociais e administrativas à competência gerencial.

Já nesta fase teriam início os ataques diretos aos casos de corrupção do governo petista. Ela está em curso. Nesta semana, apresentadores bateram pesado. A artilharia pesada deverá ser sempre "terceirizada", enquanto Geraldo alfineta Lula como o "presidente que não viu e não sabe".

A quarta fase é a do "PT ladrão". A campanha tucana venderá com mais vigor o "Geraldo decente e competente" contra o "Lula corrupto e incompetente". Com o maior tempo de TV entre os candidatos, Geraldo continuará a apresentar propostas para fazer um governo melhor do que o de Lula. Mas a propaganda baterá mais forte, como o candidato já fez em algumas declarações recentes à imprensa. Exemplo: dizer que o governo petista é "uma lista telefônica da corrupção".

Com seu plano, González acredita que levará Geraldo a um eventual segundo turno. Então, a polarização se acirraria, Lula não poderia fugir a debates na TV, e Geraldo teria tempo para tentar virar o jogo.

Se não der certo, haverá uma quinta fase. Diante da perspectiva de derrota inevitável, o objetivo das últimas duas semanas do horário eleitoral em setembro deverá ser melhorar a imagem do candidato. Mais ou menos o que José Serra fez em 2002. Sair da eleição maior do que entrou.




Obviamente, será preciso combinar com os russos. No caso, com a maioria do eleitorado, a campanha de TV do adversário e fatores do ambiente atual (crise de segurança em São Paulo e boa avaliação do governo Lula).

É um desafio levar a maioria dos eleitores a votar contra um governo com índice de avaliação boa e ótima na casa dos 50%. A propaganda petista no rádio e na TV tem sido eficiente ao apresentar realizações de Lula nas áreas social e econômica. A crise de segurança em São Paulo desgasta Alckmin, governador ou vice do Estado desde 1995.

Ou seja, González, marqueteiro vitorioso e tarimbado, fez um plano que, no laboratório das pesquisas quantitativas e qualitativas, parece perfeito. Talvez seja mesmo o plano possível para um candidato como Alckmin e para a realidade desta eleição.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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