Pensata

Kennedy Alencar

06/10/2006

Por que Lula não investigou?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz estar pronto para discutir corrupção e ética com o oponente, o tucano Geraldo Alckmin. Ministros, ex-ministros e aliados passaram a lembrar casos e suspeitas de corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso, presidente por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). E acusaram FHC e Alckmin de terem abafado CPIs quando presidente e governador.

Todo o governo diz: Lula quer debater, agora acha os confrontos na TV fundamentais para ganhar a eleição, está pronto para discutir ética, economia, política social.

No entanto, algumas perguntas sobre ética são pertinentes:

Se havia tantos casos de corrupção no governo FHC, porque o PT quer ressuscitá-los agora, quando não venceu no primeiro turno?

Por que Lula não mandou investigar tais acusações e suspeitas quando assumiu o poder em 2003?

Se houve corrupção, o presidente não teria sido conivente ou omisso por não ter determinado apurações?

Se não houve corrupção, o presidente não estaria sendo leviano e jogando na confusão para fazer um contraponto ao mensalão e ao dossiêgate?

Se Lula está realmente preparado para debates, é importante que tenha respostas para essas perguntas. Do contrário, subestimará mais uma vez Alckmin. E poderá se dar muito mal.

No início do ano, quando o ex-governador de São Paulo foi escolhido candidato a presidente do PSDB, Lula disse a auxiliares que o achava mais perigoso do que José Serra, que perdera então a indicação partidária.

Motivo: Alckmin seria um fato novo, imprevisível. Já Serra, apesar do maior cacife nas pesquisas, foi derrotado pelo petista em 2002 e seria um inimigo conhecido. Portanto, mais previsível.

Com o passar tempo, a série de pesquisas que dava a Lula vitória em primeiro turno levou Alckmin a ser visto pela cúpula do governo como um chuchu marcado para perder. Não há dúvida de que o dossiêgate foi, sim, o maior responsável pela existência do segundo turno. A campanha de Alckmin comete um erro ao avaliar que haveria segundo fase independentemente do tiro no pé dado pelo PT.

No entanto, seria prudente o PT perceber que Alckmin atravessou o deserto com frieza e solidão incríveis. Talvez tenha tido algum mérito no cumprimento dessa tarefa. Talvez esteja mais para o adversário imprevisível do início do ano do que para o chuchu que apanhou calado na campanha do primeiro turno.

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Herdeiro de Covas

Para rebater a "ofensiva ética" do PT, tucanos já têm uma resposta na ponta língua. Alckmin estaria mais para Mário Covas do que Fernando Henrique Cardoso. Covas, governador de São Paulo morto em 2001, passou a ser visto como um mito ético do PSDB por ter evitado a adesão a Collor. Alckmin foi vice dele de 1995 a 2001, quando assumiu a vaga de governador. Reelegeu-se em 2002 como herdeiro de Covas.

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Eis a questão

Uma parcela expressiva do eleitorado disposta a votar em Alckmin deseja mais eleger o tucano ou tirar Lula? Essa pergunta tem sido repetida com freqüência perturbadora em gabinetes de Brasília e São Paulo. A depender da resposta, tanto a campanha petista quanto a tucana deveriam adotar estratégias diferentes.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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