Pensata

Kennedy Alencar

13/10/2006

Eleição não está decidida

Esta eleição ainda não está decidida, apesar de a última pesquisa Datafolha ter mostrado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ter dianteira confortável sobre Geraldo Alckmin (11 pontos percentuais). Faltam mais de duas semanas para o segundo turno (29/10), e a propaganda eleitoral acabou de recomeçar. Há tempo para muita troca de chumbo.

Daqui em diante, os dois candidatos avaliam que será preciso errar menos. Reservadamente, Alckmin faz "mea culpa" em relação ao apoio do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB). Pode ter levado parte do eleitorado fluminense que votou em Heloisa Helena (PSOL) a preferir Lula por conta dessa aliança, que afeta em cheio o seu discurso ético.

No comando da campanha de Lula, a principal preocupação continua a ser o dossiêgate, que ainda tem potencial para provocar sérias avarias na canoa presidencial. Mas há ainda o temor de que o PT, com sua imensa capacidade de cometer erros, pise na bola novamente.

Nesta quinta-feira (12/10), a campanha de Lula se equivocou. Os sites do PT e da campanha de Lula divulgaram um boletim com ataques a familiares do candidato do PSDB.

"O telhado de vidro de Alckmin", nome do boletim 47 da campanha, saiu do site www.lula13.org.br às 12h40, logo depois de assessores terem sido procurados pela reportagem da Folha em Brasília para comentar o texto. De tarde, o boletim reapareceu no site do PT, quando foi novamente suprimido.

O trecho com ataques à filha do tucano, Sofia, e à sua mulher, Lu Alckmin, é o seguinte: "Afinal, alguém poderia perguntar se ele (Alckmin) sabia que sua filha era funcionária de uma empresa acusada de contrabando, a Daslu, ou se tinha conhecimento [de] que sua esposa ganhou de presente 400 vestidinhos chiques".

Sofia trabalhou na Daslu como vendedora, como outras tantas garotas. Não é sensato indagar se elas teriam responsabilidade por eventual irregularidade cometida pela proprietária da loja.

A mulher de Alckmin nega que tenha recebido 400 vestidos. Alegou que foram 40 e que os doou a uma instituição de caridade. Atitude imprópria, mas que, até aqui, Lula havia acertadamente deixado fora de sua linha de campanha.

O presidente se irrita muito quando algum familiar aparece mal no noticiário. Foi assim em relação aos negócios de um de seus filhos, Fábio, com a Telemar.

Registre-se que o presidente ficou realmente contrariado quando soube do boletim. Um auxiliar mandou tirá-lo do site enquanto ele gravava para o programa de TV. Informado depois, o presidente deu razão ao assessor. Segundo relato de quem estava ao seu lado, disse: "Já fui vítima disso, sou contra isso". Mais: Lula pediu que o marqueteiro João Santana centralize a partir de agora todas as informações do site da campanha.

Para minimizar o dano, Lula determinou ao presidente em exercício do PT e coordenador-geral de sua campanha, Marco Aurélio Garcia, que divulgasse uma nota com pedido de desculpa a Alckmin. Menos mal, apesar de o estrago já ter sido feito.

O próprio autor do boletim, Valter Pomar, reconheceu que cometeu "um erro". Responsável pela área de Internet da campanha e secretário de Relações Internacionais do PT, Pomar disse que exagerou e que Lula, quando informado, determinou o recuo.

Esse episódio é candidato a entrar para o rol daqueles que deixam Lula mal na foto. Mais uma vez, ele diz que nada sabia. E não sabia mesmo. O presidente, porém, acha que já ultrapassou o limite de usar tal justificativa. Mais: fica numa situação defensiva no momento em que as pesquisas lhe dão favoritismo novamente.




Preparação diária

Lula tem dedicado uma hora de seu expediente diário à preparação para os futuros debates de TV. Apesar de as pesquisas qualitativas do PT e do levantamento do Datafolha terem mostrado que Alckmin não teria dado a goleada imaginada pelos próprios petistas no domingo à noite, o presidente avalia que precisa se preparar melhor para os próximos embates.

Lula deverá gesticular menos e evitar ironia excessiva, dois pontos negativos de sua participação no debate da Bandeirantes, realizado no domingo (dia 08/10).




Bolsa de apostas

Se Lula for reeleito, o deputado Delfim Netto (PMDB-SP) é candidato a entrar no governo. No mínimo, como assessor especial. Delfim, ministro de administrações da ditadura militar de 1964, tem sido um dos conselheiros econômicos do presidente.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca