Pensata

Kennedy Alencar

24/11/2006

Gerdau e Jobim

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou ao perigoso pedestal que lhe custou a reeleição em primeiro turno. Ministros e aliados contam que ele está feliz por dar as cartas sozinho. Bem-humorado, diz a aliados que se reelegeu com muita força, o que é verdade. Algo gabola, dá a entender que isso bastará para que realize um bom segundo mandato.

Quando tomou o susto do segundo turno na virada de setembro para outubro, Lula temeu perder. Desceu pedestal. Entrou no ringue. E venceu.

Naquele momento, disse em conversas reservadas que faria uma grande mudança na sua equipe ministerial e que ninguém estava garantido no cargo. Foi a hora em que desejou seriamente levar para o primeiro escalão o empresário Jorge Gerdau e o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim. Queria nomes de peso para dar uma sacudida na equipe e governar melhor.

Gerdau seria a novidade na área econômica. Empresário peso-pesado de verdade, Lula o tinha ainda como opção para uma pasta gigante que mereceria o famoso "choque de gestão". Saúde, por exemplo.

Jobim substituiria Márcio Thomaz Bastos na Justiça e na reunião de Coordenação de Governo. O moderado Thomaz Bastos foi um dos principais conselheiros de Lula nas grandes crises do primeiro mandato. Fará falta, inclusive por ser um dos poucos no governo que compreendem o papel da imprensa.

Mas Jobim disse a Lula e a Thomaz Bastos que achava difícil ir para a Justiça. Tinha resistência em casa. Não queria voltar a um posto que já exercera no governo FHC. Hoje, seu caminho deverá ser suceder o deputado federal Michel Temer (SP) na presidência do PMDB.

Naquela época, no entanto, Jobim não descartava uma indicação para um dos ministérios palacianos, como Casa Civil ou Secretaria Geral reforçadas com articulação política.

Gerdau e Jobim seriam duas apostas arriscadas. O primeiro na Fazenda poderia produzir uma tremenda crise em eventual colisão com o presidente. Seria um Palocci ainda mais difícil de demitir. Guido Mantega, atual chefe da Fazenda, é mais "confortável", nas palavras de um auxiliar. Ou seja, faz o que Lula manda e ponto.

Jobim na articulação política e dentro do Palácio do Planalto poderia ser outro a travar com o presidente uma "interlocução ardida". Bem relacionado com os tucanos, nome respeitado no PMDB, o ex-presidente do STF seria outro ministro muito forte a arejar o poder petista.

Rapidamente, os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e Guido Mantega (Fazenda) se aliaram para tentar evitar a entrada de "novatos" incômodos no núcleo do poder.

Levando em conta os últimos sinais de Lula, o trio levou a parada. O presidente tende a manter Mantega na Fazenda. Crê que Tarso se saiu bem na articulação com o PMDB na última semana. E vê em Dilma uma pessoa capaz e de extrema confiança.

Em resumo: com medo de escalar craques que talvez pudessem resultar em estrondoso fracasso, Lula sinaliza que jogará com o conhecido "timaço" que já está em campo. O presidente avalia que ele é o craque. E não está a fim de bola dividida. Ruim para ele, pior para o país.




Tiazinha

Alguns poucos ministros dizem que ela é inteligente e doce. São aqueles que ela respeita e com os quais não levanta a voz.

Outros colegas de ministério a temem. Contam que freqüentemente é rude e dura no trato pessoal. Por isso, muitos de seus subordinados no terceiro e quarto escalões a apelidaram de "Tiazinha". Motivo: sempre estaria de chicote à mão.

Sim, você acertou: o nome dela é Dilma Rousseff, a poderosa ministra-chefe da Casa Civil.




Bastidor e deselegância

Gerdau disse a um amigo que não aceitaria o Ministério do Desenvolvimento. A leitura foi: deseja a Fazenda, onde está o poder de fato. Auxiliares acham que Lula ainda pode tentar levá-lo para o Planejamento. Manteria Mantega, Henrique Meirelles (Banco Central) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Gerdau seria um ministro forte no Planejamento.

O atual ocupante da pasta, Paulo Bernardo, iria para outra vaga do primeiro escalão. Lula gosta de Bernardo, a quem é grato por ter permanecido no governo no momento mais difícil, deixando de ser candidato. Ele é boa figura, mas está isolado na área econômica por ser muito identificado com o paloccismo.

A possibilidade de Gerdau integrar o governo é menor a cada dia. O empresário não gostou da deselegante declaração de Mantega a respeito do estudo do especialista em gestão Vicente Falconi que ele pediu que fosse entregue a Lula. O documento propõe medidas para economizar recursos da Previdência. "Se são eficazes, será a descoberta da América", afirmou o hábil ministro da Fazenda.

Com declarações assim, Mantega certamente descobrirá muito mais do que a América. Transformará em realidade o crescimento anual de 5% do PIB (Produto Interno Bruto).
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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