Pensata

Kennedy Alencar

21/12/2006

Pacote é tiro no pé

Depois de descer ao inferno político do mensalão e do dossiegate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reelegeu no segundo turno com votação esmagadora --60,83% dos votos válidos. Pesquisa Datafolha o apontou como o presidente mais bem avaliado da história do país. E o levantamento CNI-Ibope revelou que Lula chegou ao final do primeiro mandato com o melhor índice de avaliação do seu governo.

Ora, estava bom demais. Era preciso criar algum fato negativo, tropeçar nas próprias pernas. E Lula não hesitou. Com ajuda do voluntarismo dos defensores do "fim da era Palocci", caiu em duas armadilhas: prometer meta de crescimento de 5% ao ano e elaborar um pacote para "destravar" a economia.

Na semana passada, Lula desembarcou dos 5%. Passou a cogitar taxa menor em 2007 para o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país em um ano).

Na manhã de terça-feira (19/12), Lula manifestou dúvida em relação ao anúncio do pacote na quinta. Achava que algumas coisas não estavam amarradas. Sabia que seria politicamente desgastante o adiamento. Mas, na quarta, adiou mais uma vez o prometido pacote. Avaliou que pior seria vê-lo destruído pela mídia, transformando-se num fato negativo ainda maior neste final de ano.

De acordo com ministros, Lula não está convencido de que as medidas destravarão a economia. Acha que poderia sinalizar afrouxamento fiscal em excesso. E julgou que algumas medidas eram apenas idéias (simplesmente não existiam).

Menos mal que tenha adiado. Melhor do que anunciar um pacote inconsistente. Intuitivo, Lula bancou um salário mínimo de R$ 380, desautorizando o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Com isso, fica bem com o povão. Reforça seu capital político e ganha tempo para tentar sair da enrascada em que se meteu.

Após a recaída voluntarista, Lula redescobriu que foi a sua política econômica, com seus acertos e erros, que lhe permitiu atender aos pobres nos últimos quatro anos e obter a aprovação que obteve nas urnas e nas pesquisas.




Perguntar não ofende

Uma indagação: se a política econômica de Antonio Palocci Filho era tão ruim assim, por que Lula se reelegeu contra tantas dificuldades?




Sem susto

Uma das melhores heranças econômicas do governo FHC foi o fim das mudanças repentinas na economia. O sucesso do Plano Real acabou com os pacotes que apareciam de repente para infernizar a vida dos cidadãos. Essa idéia de pacote para destravar o crescimento no segundo mandato gerou um grau de incerteza econômica que parecia coisa do passado.

Também foi um erro político. Bondades devem ser anunciadas aos poucos. E maldades de uma vez. Esse pacote parecia trabalhar com lógica inversa.




Nunca antes neste país

De acordo com um ensinamento político, não existe ministro da Fazenda fraco. No entanto, o governo Lula inovou mais uma vez. Nunca antes neste país houve um ministro da Fazenda tão fraco como Guido Mantega. Lula decidiu mantê-lo. Talvez justamente por isso.

O presidente diz que Mantega lhe foi fiel a vida inteira. Nunca o abandonou, especialmente no tempo das vacas magras. E, mais importante, o obedece cegamente, mesmo que tenha de ser fuzilado politicamente. Ok. São pontos "favoráveis" à sua manutenção.

Mais uma perguntinha: ele está à altura da tarefa?
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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