Pensata

Kennedy Alencar

29/12/2006

Lula e o segundo mandato

"Acelerar, crescer, incluir". "Segundo governo, um novo começo". Esses são os slogans dos cartazes espalhados por Brasília para marcar a segunda posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.

A princípio, não têm nada de errado. Acelerar políticas acertadas do primeiro mandato, estimular o crescimento da economia e priorizar a inclusão social são objetivos que todos os governantes eleitos e reeleitos deveriam perseguir. Dizer que o segundo governo é um novo começo tem lá a sua pertinência retórica. E tentar melhorar o que foi feito é uma decisão política mais do que óbvia.

Repetindo: à primeira vista, nada de errado com os slogans preparados pelo jornalista João Santana, marqueteiro de Lula na reeleição e encarregado da criação publicitária da nova posse nesta segunda-feira, dia 1º de janeiro de 2007.

No entanto, tais slogans são mais do que propaganda política. Eles traem uma certa insatisfação de Lula e de alguns de seus principais auxiliares com o primeiro mandato. Revelam que o presidente e alguns ministros podem ceder a um voluntarismo light no segundo governo. Light porque não haveria um desastre, mas um retrocesso.

Lula tem dito que fará uma segunda gestão "diferente". Ministros vivem repetindo que "mudanças" são necessárias. Ora, se o eleitor quisesse tantas alterações assim, ele não teria reeleito Lula. Se o petista foi reconduzido, é lícito supor que a maioria do eleitorado aprovou as políticas que adotou no primeiro governo. Do contrário, teria votado em Geraldo Alckmin (PSDB).

No entanto, apesar da significativa vitória em 29 de outubro com 60,83% dos votos válidos, o presidente parece querer se livrar do primeiro mandato. Dá a entender que tem vergonha dele, sobretudo da política econômica. Ora, há alguma coisa estranha aí.

Governar não é jogo de decisão de Copa do Mundo. Lula parece enxergar o segundo mandato como o segundo tempo de um partida de futebol na qual tem de chegar aos 45 minutos finais vencendo de goleada. Parece achar que terminou o primeiro tempo ganhando de um a zero e agora quer marcar quatro gols na segunda etapa para dar brilho ao título.

Governar é bem diferente de futebol, apesar de o presidente viver recorrendo ao esporte bretão em suas metáforas sobre poder. Convencido de que necessárias, um estadista pagaria o preço de adotar medidas duras ciente de que um eventual reconhecimento talvez só ocorresse depois de deixar o poder. O petista tem capital político e simbólico para, por exemplo, enfrentar de vez a questão fiscal.

O PT, porém, já se mostra preocupado com o desempenho que o partido terá nas eleições municipais de 2008. Ministros acreditam que crescer 5% ao ano é ato de vontade. Há no entorno do presidente uma forte pressão por mudanças, ancorada na visão de que a inflação está domada e de que elevar gastos públicos não comprometerá o crescimento. Por ora, Lula tem resistido a essa pressão_já adiou o anúncio do pacote econômico algumas vezes por não estar seguro da correção de algumas medidas.

Um presidente não deve se preocupar com sua taxa de aprovação nas pesquisas quando deixar o Palácio do Planalto. O Brasil não acaba em quatro anos ou em oito anos. Um presidente não será julgado apenas pelo resultados que colheu no seu tempo de governo. Um presidente será julgado principalmente pelas decisões que afetarão o futuro do seu país.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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