Pensata

Kennedy Alencar

05/01/2007

Lula enfrentará questão fiscal

Após mais de dois meses de debate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trilhará um caminho prudente em relação à questão fiscal. O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) terá um conjunto de medidas para diminuir a expansão de gastos públicos _ela foi em média de 6% nos últimos 12 anos.

Haverá medidas de longo prazo, que sinalizarão para o mercado e a sociedade que o governo buscará fazer o Estado caber dentro do PIB (Produto Interno Bruto). É uma decisão correta e que, combinada a um plano de investimentos em infra-estrutura, poderá levar o Brasil a crescer a taxas mais robustas nos próximos anos.

Durante a elaboração do PAC, Lula foi e voltou muitas vezes. Em alguns momentos, relegou a questão fiscal ao segundo plano. Noutros, compreendeu que o segredo do êxito de sua reeleição se deveu a uma política econômica que teve mais acertos do que erros. Essa política melhorou a vida dos mais pobres e lhe deu espaço para um leque de ações sociais que teve efeitos positivos nas regiões mais carentes e desiguais do país, como o Nordeste e o Norte.

Ao anunciar o PAC, Lula fará um "mix" de medidas que significarão maior gasto do Estado (infra-estrutura, por exemplo) e redução de despesas. Assim, poderá antecipar efeitos positivos em função das boas expectativas que gerará. Gastará no que estimulará o crescimento.

Um dos objetivos do PAC será tentar obter o déficit nominal zero das contas públicas em 2010, último ano do mandato do petista. Ou seja, a União terá os recursos suficientes para quitar todas as suas despesas, inclusive os juros da dívida pública. É uma meta ambiciosa. Estima-se que o déficit nominal em 2006 tenha sido de 2,8% do PIB (Produto Interno Bruto), aproximadamente R$ 70 bilhões.

A idéia central do lado fiscal do PAC é diminuir o crescimento dos chamados gastos correntes. Exemplo: haverá proposta de regra de reajuste para o salário mínimo até 2023, com possibilidade de revisão a cada quatro anos (primeiro ano do mandato dos sucessores de Lula). Será proposto um teto de reajuste para o salário do funcionalismo público.

Essas medidas precisarão ser aprovadas pelo Congresso, o que não é tarefa fácil. Numa tremenda crise de imagem, o Legislativo federal pode se ver tentado a não votar projetos que terão "custo político". O lobby do funcionalismo público, por exemplo, é fortíssimo e está logo ali, nos gabinetes e nos corredores da Câmara e do Senado.

Para aprovar o "lado duro" do PAC, Lula precisará contar com uma base de apoio no Congresso que lhe seja fiel. E isso remete a outra questão ainda em aberto: a composição do novo ministério precisará refletir um reorganização da força do governo no Congresso. A articulação política do primeiro mandato foi um fiasco.




Desfigurado e ineficaz

Quando o governo propôs que a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2007 previsse redução dos gastos correntes de 0,1% do PIB, críticos na sociedade e na imprensa disseram que era uma medida pífia.

No Legislativo, os parlamentares alteraram o dispositivo, excluindo áreas do corte previsto e deixando todo o ônus ao Executivo. Corretamente, Lula vetou o artigo, totalmente desfigurado. Agora, também foi criticado por isso. Agiu bem. Preferiu fazer um novo esforço fiscal com medidas no PAC.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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