Pensata

Kennedy Alencar

02/02/2007

O PT e José Serra

"É mais fácil o PT apoiar o Serra em 2010 do que o Ciro." A frase é de um dos principais deputados federais do PT e articulador da candidatura vencedora de Arlindo Chinaglia (PT-SP) a presidente da Câmara.

Por razões óbvias, ele pediu para ter o nome preservado. O ex-ministro e deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) é aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador de São Paulo, o tucano José Serra, destaca-se entre os líderes da oposição.

O raciocínio, portanto, deve ser visto com reserva. É mais um indicador da deterioração das relações entre Ciro e os petistas do que sinal de uma articulação para uma aliança entre Serra e o PT.

As relações entre Ciro e os petistas nunca foram boas, mas pioraram após a disputa entre Chinaglia e Aldo Rebelo (PC do B-SP), ex-presidente da Câmara que não conseguiu se reeleger na noite desta quinta-feira (01º/02).

Ciro é um presidenciável do atual campo de forças políticas que apóia o segundo governo de Lula. Nos bastidores, petistas avaliam que a eventual eleição de Ciro em 2010 faria do PT um coadjuvante menor do poder. O partido tentará construir uma alternativa presidencial ao ex-ministro --nome conhecido nacionalmente, candidato a presidente duas vezes e político bom de discurso.

Lula, que não poderá ser candidato a presidente daqui a quatro anos, gosta de Ciro, a quem é grato pelo apoio no segundo turno em 2002 e por um desempenho discreto e leal no ministério do primeiro mandato.

Mas e o tal apoio a Serra? O deputado federal responde: "Se o PT não conseguir um nome mais competitivo do que o Ciro, por que não apoiar o Serra se ele se dispuser a apoiar a Marta [Suplicy, ex-prefeita de São Paulo] para o Palácio dos Bandeirantes?". Brincadeira. O parlamentar disse: "É, mais ou menos. O Arlindo [Chinaglia] vai ganhar hoje se tiver o apoio do Serra".

Dito e feito. O petista se elegeria presidente da Câmara graças ao suporte no segundo turno de parte da bancada federal do PSDB. Chinaglia já propôs aos tucanos um acordo de cavalheiros na legislatura que ora começa. Deseja um entendimento para que aprovem uma agenda congressual comum, com nova restrição às medidas provisórias e reformas política e tributária.

Hoje, parece muito difícil que esse acordo de cavalheiros resulte numa aliança presidencial PSDB-PT em 2010. É mais realista supor que esse movimento de aproximação permita o final da guerra fratricida entre petistas e tucanos nos próximos anos, o que seria bom para o Brasil. Mas política e nuvens a cada hora estão de um jeito...




Sem compromisso

Quando ainda avaliava que tinha margem de manobra para intervir na disputa pela presidência da Câmara, Lula chamou Aldo e Chinaglia ao Palácio do Planalto. Disse que desejava uma candidatura única e que, se um deles desistisse, seria compensado com um ministério.

Os dois recusaram. A disputa se acirrou após o acordo PT-PMDB. E Lula lavou as mãos, o que acabou beneficiando Chinaglia.




15 minutos de fama

Na bancada do PT, há deputado pensando em apresentar emenda constitucional que permita a Lula concorrer à reeleição em 2010. Idéia de jerico. O presidente não a aprova, mas será difícil impedir que vingue a versão de tentação chavista caso o projeto seja mesmo apresentado.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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