Pensata

Kennedy Alencar

04/05/2007

Turbulência à vista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus articuladores políticos fizeram o máximo que puderam diante do leite derramado. Uma vez derrotados no propósito de evitar a CPI do Apagão Aéreo na Câmara, destacaram fiéis aliados para os principais cargos.

Governistas disseram ao longo desta semana que o governo conseguirá controlar a CPI e, assim, abafar eventuais linhas investigatórias incômodas para o Palácio do Planalto. PMDB e PT controlarão a presidência e a relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito.

O discurso, portanto, soa correto para quem está no poder. No entanto, é algo ingênuo e arrogante. A experiência recente do país mostra que é muito difícil controlar CPIs. Elas têm um poder enorme para investigar e, simultaneamente, dar repercussão nacional a essa apuração.

Quem viajou de avião nos últimos seis meses constatou a gravidade da crise aérea. Há muitas razões, dizem os especialistas. Aumento da demanda, algo inegável. Malha aérea muito interligada para baratear custos (o atraso de um vôo tem efeito imediato sobre o próximo trecho e assim por diante). Falhas de segurança no sistema de controle de tráfego aéreo. Fundadas suspeitas de corrupção em obras da Infraero. E por aí vai...

Mesmo em minoria, a oposição terá uma extensa lista de assuntos a explorar. No passado, fiéis governistas não resistiram ao apelo dos holofotes e botaram para quebrar.

Desde o susto do dossiegate nas eleições de 2006, Lula tem vivido bons momentos. Alguns petistas acham que ele está confiante e alegre demais, o que, no passado recente, contribuiu para levá-lo a cometer erros estratégicos.

A CPI do Apagão Aéreo é nova fonte de agenda negativa para o poder central. E essa agenda naturalmente deverá ganhar destaque se a oposição e a imprensa cumprirem os seus papéis.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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