Pensata

Kennedy Alencar

25/05/2007

Parar de roubar

Duas obviedades necessárias. Eventuais abusos da PF (Polícia Federal) em qualquer investigação, não apenas na Operação Navalha, devem ser apurados, punidos, evitados etc. É importante ainda que a produção de provas sustente processos judiciais que punam corruptos e corruptores.

Ressalva feita, a saraivada de críticas que a PF vem recebendo devido à Operação Navalha é um manjado estratagema. Políticos dos mais variados partidos estão morrendo de medo de que alguma mutreta que os envolva venha à tona. Solução: partir para o ataque.

As pontes que ligam o nada a lugar nenhum, as gravações com menções explícitas e implícitas a propinas, as liberações-relâmpago de verbas para obras, o estilo Zuleido de fazer amigos e influenciar pessoas são revelações mais do que suficientes para dar os parabéns à Polícia Federal.

Com medo do que está por vir, muitos caciques políticos deram corda à versão de que o Palácio do Planalto instrumentalizou a PF para diminuir o apetite fisiológico dos dirigentes do PMDB, especialmente os do Senado. Outros viram manobra do PT para tentar atingir adversários. Teve quem acusou o adversário regional, mas se esqueceu de que o grupo político desse inimigo também está na mira dos federais. Mais: a Operação Navalha começou a partir de investigações da PF a respeito de seus próprios integrantes.

Bobagens. Mas bobagens que ajudam maus políticos a apostar na confusão, a misturar o joio ao trigo. Lula não caiu nessa na quinta-feira. Mandou o ministro da Justiça, Tarso Genro, apurar os tais desvios da PF, sobretudo queixas de advogados criminalistas em relação a abusos, mas lembrou que a polícia descobriu uma grande rede de corrupção.

Há muito político sério em Brasília. Generalizações, como as que apontam a capital federal como um antro de crimes, não fortalecem a democracia. No entanto, para aqueles que tanto se queixam das descobertas da PF, vai uma sugestão: que tal parar de roubar, de fazer tráfico de influência, de pedir liberação de verba em troca de votos no Congresso?




Espírito público

Nas conversas de terça-feira no Palácio do Planalto, uma opinião causou surpresa. O ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) achava que Silas Rondeau (Minas e Energia) deveria continuar no ministério. Motivo: manteria o foro privilegiado. Responderia às acusações no STF (Supremo Tribunal Federal) e não ficaria tão facilmente sujeito a uma prisão temporária. A opinião de Walfrido pegou mal no governo. Reveladora, para alguns. Triste, segundo outros.




Fritado

O ex-presidente da República e senador José Sarney (PMDB-AP) diz que acredita na inocência de Silas Rondeau, ex-ministro das Minas e Energia. Lula também.

Ora, por que não o mantiveram no posto? Sarney quis sair do foco, pois fora seu padrinho político. Lula gostava mesmo de Silas, mas desconfia demais do assessor acusado de receber a propina de R$ 100 mil.




Perdido, mais uma vez

A desarticulação política do governo continua firme e forte. O Palácio do Planalto não deseja uma CPI da Operação Navalha. Lula diz que não tá nem aí. Líderes aliados não chegam a um consenso. Entre os partidos governistas, é comum ouvir críticas à atuação do ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia. Ele já está ficando com a fama de pessoa que não adianta ser procurada para a solução de problemas.

Ou seja, está uma bagunça digna de um governo de coalizão apoiado por 15 partidos. Quando a CPI for uma realidade, o governo tentará minimizar o prejuízo. Mas, filme já visto, deverá colecionar nova derrota.

No Senado, já há assinaturas suficientes. Faltam cerca de 20 na Câmara. A proposta atual é de CPI mista das duas Casas. Se não houver número na Câmara, o Senado pode fazer uma por sua conta.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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