Pensata

Kennedy Alencar

10/01/2003

Uma guerra covarde se anuncia

A crise dos EUA com a Coréia do Norte tem um grande mérito: desnudou as verdadeiras intenções norte-americanas em relação à provável guerra que será travada contra o Iraque. Essa conversa de combate ao terrorismo não cola. George W. Bush, o presidente americano, quer mesmo é controlar as reservas petrolíferas do país de Saddam Husseim, um ditador que recebeu ajuda de Tio Sam para se armar e dominar o país.

Isso já era algo presumível, mas a intenção ficou escancarada com a forma "diferenciada" como Bush trata seus inimigos norte-coreanos e iraquianos.

A justificativa dos EUA para começar uma guerra contra o Iraque é a alegação de que há armas de destruição em massa no país. De acordo com Hans Blix, o chefe dos inspetores da ONU (Organização das Nações Unidas), nada foi encontrado até agora nesse sentido. Nenhuma prova concreta. A suposta ligação de Saddam com Bin Laden já deixou até de ser usada como desculpa pela Casa Branca.

Já a Coréia do Norte assume publicamente que tem tecnologia para produzir a bomba atômica e dá a entender que o artefato já está até pronto. Mais: ameaça os EUA com uma guerra nuclear.

Como reage o caubói Bush? Vai negociar diplomaticamente com a Coréia, enquanto mobiliza tropas para invadir o Iraque.

Esse tipo de comportamento desmoraliza ainda mais as Nações Unidas. Faz do organismo mero fantoche dos interesses norte-americanos.

Apesar dos arroubos de Saddam, prometendo uma resistência tremenda, a mesma coisa que os sérvios e os talebans prometeram e não cumpriram, os EUA vão ganhar fácil a guerra contra o Iraque. É desproporcional a capacidade militar dos EUA na comparação com a do Iraque. Em relação à Coréia do Norte, os EUA também ostentam tremenda vantagem militar, mas o Exército e as armas do país são capazes de uma resistência de verdade, daquelas em que soldados morrem.

Mas isso assusta Bush e lembra a covardia dos soldados da Otan, a aliança militar ocidental, na guerra do Kosovo. Naquele conflito, nenhum soldado ocidental morreu numa batalha. No Iraque, baixas desse tipo deverão acontecer, mas serão mínimas na comparação com o grande prêmio que aguarda Bush, um presidente oriundo da indústria de petróleo norte-americano. Esse prêmio tem o valioso nome de uma imensa reserva de petróleo.

A guerrilha contra João Paulo
O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) já é quase o presidente da Câmara. Há resistência no PMDB, no PFL e no PSDB, mas o poder da caneta de um novo governo ajuda bastante.

Apesar disso, João Paulo começa a enfrentar um trabalho de guerrilha dos peemedebistas que temem que o PT não honre um acordo para dar ao partido a presidência do Senado.

Já se escuta aqui e ali comentários dizendo que João Paulo é bonzinho, mas não tem expressão política para presidir a Câmara. Fala-se também que, na prática, ele será um teleguiado do ministro da Casa Civil, José Dirceu, esse, sim, o homem forte da política no governo Lula.

A batalha de João Paulo não será apenas a de conseguir votos para se eleger, mas a de construir uma imagem que faça justiça à importância do cargo.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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