Pensata

Kennedy Alencar

24/01/2003

Apoio do PSDB ao PT é armadilha

O PT deve comemorar com reserva o apoio do PSDB à candidatura do deputado federal João Paulo Cunha (SP) à presidência da Câmara, bem como o anunciado empenho a favor de reformas que o novo governo pretende levar ao julgamento do Congresso. É uma trégua momentânea, de quem aguarda um tropeço adiante para cobrar a fatura ou tentar transformar derrota em vitória política.

Depois que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, enquadrou o PMDB, um partido dividido em grupos regionais que vivem em constante conflito, ficou consolidado o cenário para a eleição de João Paulo. Dificilmente os tucanos teriam capacidade de impedir a vitória do deputado.

Nesse caso, em vez de ir para uma disputa perdida, como faziam os petistas na oposição, o PSDB resolveu adotar uma linha "civilizada" e reconhecer o direito de o PT, que elegeu a maior bancada de deputados federais, indicar o presidente da Câmara.

Perdida a batalha congressual, restou a saída "não vamos fazer o que o PT fazia". Essa estratégia é fruto da análise de caciques tucanos de que pegaria muito mal ir para uma guerra agora, quando o novo governo está com a popularidade nas alturas e tem muita força para conquistar aliados.

A avaliação de dirigentes importantes do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves (MG), é de que os tucanos precisam submergir por ora. Uma linha oposicionista dura demais soaria contrária aos interesses do país.

Se o PT tiver sucesso, o discurso tucano será o de que o partido de Lula adotou bandeiras de FHC e que, portanto, o PSDB não tinha outro caminho senão o do apoio. Esse discurso tem muito de verdadeiro, basta ver que é o próprio PT quem faz mais oposição a Lula.

Nesse cenário, dificilmente haverá um tucano de peso disposto a disputar a Presidência em 2006.

No entanto, se o PT fracassar, os tucanos dirão que fizeram tudo o que podiam para Lula dar certo e insistirão na suposta incapacidade administrativa dos petistas para comandar o Brasil.

Nessa hipótese, o PSDB reviverá uma guerra interna pela candidatura presidencial. Nessa lista de presidenciáveis, convém colocar FHC, Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin (SP) e José Serra, candidato derrotado no ano passado.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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