Pensata

Lúcio Ribeiro

20/02/2001

Que mancada a sua!

"May I have your attention, please" - Eminem

Peço a sua atenção para duas mancadas. Uma minha e uma sua, se você vestir a carapuça.

A minha é a seguinte: sabe aquela história de apontar as bandas quentes de 2001, as que você precisa conhecer hoje, agora, neste momento? Pois é, não vai rolar.

Não nesta semana. Vou deixar para a coluna da próxima quarta, a pós-Carnaval, que deve circular um pouco fria, uma vez que vou escrevê-la nesta próxima sexta.

É que na semana que vem, assim que você abrir o texto na quarta-feira ou na quinta ou na sexta ou..., a qualquer hora, vou estar gozando de merecidas férias, com o pezão descalço na areia em algum ponto do litoral da Bahia.

Desnecessário dizer, vou para meu retiro baiano não para saber mais sobre o projeto de CD experimental que o Caetano Veloso está preparando (é sério!) nem para ir atrás de algum bloco funk/axé (é sério!!!).

Vou estar lá, quietinho, com um coco em uma mão enquanto a outra segura um exemplar da "Mojo", lendo aquelas saborosas histórias de banda velha.

Já a sua mancada, se for esse o caso, é morar em uma das praças onde o Mudhoney tocou e não ter ido ao show. Ou viver em São Paulo e já não ter dormido com o ingresso do show de hoje à noite debaixo do travesseiro.

Para a moçada mais nova, que acha que o Weezer e o Placebo são revoluções, saiba que se não fosse o fator tempo, implacável, ver o Mudhoney em ação seria o mesmo que rumar ao Morumbi naquele bendito 1993 em que o Nirvana tocou.

Ver e ouvir ao vivo a barulheira tosca "Touch Me I'm Sick" e não sentir um calafrio na espinha é digno de chegar em casa, jogar toda a coleção de discos no lixo e começar do zero.

Graças a Deus (ou não, porque dizem que ele não é o pai do rock), eu já vi muitos shows na minha vida.

E no capítulo debaixo vou contar como foi o concerto dos caras que eu testemunhei em 1991, em Londres, um dos três melhores da minha humilde existência.

Repare no ano, no local e vem comigo.

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LONDON ASTORIA, 11/08/1991

Faltavam alguns dias para o Reading Festival daquele ano, que entraria para a história por Kurt Cobain dizer, quase sem condições de dizer coisa alguma: "Ei, agora uma música nova, vai estar no próximo disco". E começar "In Bloom". E depois dizer mais um monte de bobagem ininteligível e tascar "Smells Like Teen Spirit". E olha que o "Nevermind" só sairia no mês seguinte.

Naquele verão de 1991, já saía pelas caixas acústicas da Inglaterra o tal som de Seattle. O jornalista Everett True, da "Melody Maker", já tinha estampado nas páginas do semanário a matéria "Seattle Rock City" e nomes como Nirvana, Soundgarden, Mudhoney, Alice in Chains e Screaming Trees já não eram muito novidade no circuito indie.

Mas a cena estava para explodir. Até porque o rock inglês da época tinha uma boa safra barulhenta e nos clubes a simples menção de músicas de Ned's Atomic Dustbin, Wonder Stuff e Levellers, só para citar alguns, já fazia todo mundo correr para pista e dançar engraçado, com o corpo parado, curvado para frente e só balançando a cabeça. Ser cabeludo ajudava no efeito.

Então todo mundo esperava loucamente o Reading, que iria dedicar 90% do primeiro dia para bandas americanas: tocaria o Babes in Toyland, Nirvana, Dinosaur Jr., Sonic Youth. De lambuja, quem fechou a noite foi Iggy Pop.

O lance é que, por causa de Seattle, a onda era rock americano. O Pixies tinha tocado no Reading, no ano anterior, e todo mundo pirou. Então a americanada rumou toda, em 1991, para a Inglaterra, onde realmente o bicho pegava.

Aí é que entra o Mudhoney. Fora do Reading, os caras agendaram uma turnê pela Inglaterra, com shows concorridos.

Lembro-me de ficar em uma fila imensa fora do Astória, esperando o clube abrir. Todo mundo queria ver a banda de meninas da abertura, cujo show, inédito em Londres, estava bem badalado.

Astoria lotado, Kurt Cobain, Thurston Moore e J. Mascis na platéia (Não vi. Li na "NME", depois), a banda de meninas entrou. A vocalista e guitarrista estava vestida por uma camisolinha fina. E rasgada. Era Courtney Love e a banda, o Hole. Para atiçar os ingleses, nos intervalos de música, Love ficava cantarolando letras dos Smiths. Até hoje não sei se ela estava zoando ou fazendo homenagem.

Todo esse blablablá é para chegar no show principal da noite, o Mudhoney. Os caras apareceram e me arrependi de estar lá perto do palco, tão na frente.

O vocalista/guitarrista Mark Arm chegou ao microfone e mandou o aviso: "Para vocês não ficarem enchendo o saco, vamos abrir com 'Touch Me I'm Sick'".

Quase morri esmagado.

O resto do show foi inesquecível, barulhento, espantoso, único.

Não respirei muito, mas sobrevivi feliz.

O tempo passou, claro, e o grunge está meio datado. Mas quem viu algum dos shows que a banda já fez por aqui (dizem que o de Goiânia foi impressionante) ou ouviu nesta segunda-feira os caras se apresentarem nos estúdios da Brasil 2000 FM, como convidados do programa "Garagem", pode entender melhor toda essa balela que eu escrevi acima.

E pensa: essa banda toca hoje no Olímpia, em São Paulo. Essa banda do cara da foto aí embaixo, que está convidando você para ir ao show do grupo dele.


Crédito: Gabriel Gaiarsa

Legenda: Olha eu ao lado da história: o revolucionário do barulho Mark Arm, do Mudhoney

O Mark está chamando você para o show. Ouça o rapaz.

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PIN UPS

O show de abertura do Mudhoney ficará a cargo da veterana banda paulistana Pin Ups, 13, que conta com a volta do Luiz Liam Gustavo aos vocais.

Vi recentemente um show deles.

A banda é polêmica e parece que não é vista com bons olhos pela nova safra de habitantes do mundo independente brasileiro.

Inclua-me no outro grupo, o dos que gostam.

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TEM MUDHONEY E TAMBÉM TEM...

Aviso de show. Reproduzo aqui o e-mail que recebi ontem.

"Hoje eu e minha Banda Dadundêra estaremos realizando um show no Café Piu Piu. Neste, apresentarei as músicas do meu CD (Feitiço da Maresia) e também músicas de artistas consagrados da nossa MPB. Contamos com a sua presença e de seus amigos, para curtirmos juntos nesta terça-feira uma noite de boa música brasileira. Desde já agradeço sua presença. Um forte abraço."

Mas não adianta se entusiasmar. O show foi ontem, terça. Sacanagem minha.

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CADA E-MAIL QUE JORNALISTA RECEBE

(Parte 2)

"MTV LANÇA PROMOCAO 'SEJA ROADIE DO LULU SANTOS'

A MTV Brasil acaba de lançar a promoção "Seja Roadie do Lulu", no Contato MTV, programa jornalístico da emissora.

O vencedor será roadie do Lulu Santos e irá acompanhar e ajudar (como roadie) nos preparativos para o show no dia 09 de março, no Direct TV-Music Hall e irá assistir ao show do palco. Além disso, ganha uma coleção de CDs variados do Lulu e, ainda, o DVD do Acústico MTV Lulu Santos.

Caceta!!!

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A QUEM INTERESSAR POSSA

* Você que tem uma vida miserável, triste, é infeliz no amor, não aguenta mais seu trabalho, mas consegue sobreviver por meio de cultura pop, sua salvação chega em abril. É quando sai em vídeo e em DVD o filme "Alta Fidelidade", baseado na obra do escritor inglês Nick Hornby. Vai dar para comprar a fita e vê-la umas três vezes ao dia, né?

* Lembra um dos filmes bacanas para 2001 que eu citei na semana passada, "Almost Famous"?

Aquele que é priminho do "Alta Fidelidade" e conta a história do garoto que é convidado pela "Rolling Stone" para fazer uma reportagem sobre uma banda nova em ascensão, a imaginária Stillwater? O filme tem nome brasileiro, "Quase Famosos", e estréia no Brasil dia 9 de março.

* O esquisito preferido de todo mundo, Thom Yorke, do Radiohead, vai fazer um dueto com a cantora cool Bjork na cerimônia do Oscar, no dia 25 de março.

* Essa é boa. A banda tecnopop inglesa Soft Cell, da libélula Marc Almond, está de volta e toca em Londres em março. Ingressos para o primeiro show se esgotaram rapidamente. Vai ter show extra, que a essa hora...

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XIIIIII!

Caetano Veloso na capa (onde mais?) do caderno de cultura do "Estadão":

"Há manifestações musicais que me interessam... Axé music, por exemplo... (Tem ainda) um compositor que vi só uma vez, em Porto Alegre, muito inventivo. Jupiter Apple..."

análise 1: Corra, Jupiter, corra.

análise 2: Deve ser a próxima capa do "Estadão" e assinar um contrato gordo com alguma gravadora gigante. As portas se abrem, você sabe.

Mas parece que a banda não cai nessa. Uma vez o Jupiter foi convidado (leia-se: intimado pela gravadora) para ir no falido "Muvuca", da Regina Casé, e não aceitou. Foi até expulso pela gravadora, parece.

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CARA DE PAU

No site cliquemusic.com.br, apareceu uma entrevista com o gênio da garrafa (essa foi boa!) Carlinhos Brown. Quando o papo rolava sobre os anos 80, Brown soltou:

"'Amor I Love You' (parceria de Brown e Marisa Monte) e os Racionais MCs têm o mesmo discurso, só com as palavras diferentes."

análise 1: Poimmmm!

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ESSA ESTOU PARA DIZER HÁ UM TEMPÃO...

Nessa vida de jornalista se vê de tudo. Recentemente foram distribuídos nas redações, por algumas gravadoras, alguns presentinhos caros, cujo dinheiro, gasto de uma outra maneira, poderia por exemplo custear a construção em CDs de uma boa cena qualquer.

As "lembranças" eram um quebra-cabeça do Carlinhos Brown e uma espécie de calendário-cubo mágico, muito transado e artístico, do Tom Zé.

Ia até botar fotos dessa "estratégia de marketing" inteligente da indústria musical brasileira, mas não vou perder o meu nem o seu tempo com isso.

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RESULTADO DA PROMOÇÃO

Não é picaretagem, acredite. Por pura falta de tempo, na semana que vem divulgo números sobre a promoção das "Bandas que eu tenho mais CDs".

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VENCEDORES DA PROMOÇÃO

Ganharam o porta-CDs dos Beatles e o ingresso duplo para uma sessão de "Os Reis do Iê-Iê-Iê" ("A Hard Day's Night") os seguintes felizardos:

Marcos Henrique Lauro

banda que tem mais CDs: Raimundos

Reginaldo Lacerda

banda que mais tem CDs: Depeche Mode

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PROMOÇÃO DA SEMANA

Valendo um exemplar da sacolinha Lúcio de CDs - "The Best of Blur", "Alta Fidelidade", Brincando de Deus, REM ("Green"), Neil Young ("Harvest Moon"), Astromato ("Melodias de uma Estrela Falsa"), Yo La Tengo ("President Yo La Tengo/New Wave Hot Dogs"), o novo Marilyn Manson (esqueci o nome do CD) e Coldplay ("Parachutes").

É só responder para concorrer:

Qual é o seu atual disco de cabeceira, o predileto do momento, aquele que você está ouvindo HOJE e que você está carregando para lá e para cá?

Só vale citar um.

O meu é "Luna Live", do Luna

Mande seu voto para lucio@uol.com.br e não se esqueça de dizer qual CD você gostaria de ganhar.

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PREMIAÇÃO ESPECIAL

Acompanhe o e-mail enviado pelo leitor Bruno Souza, de Campinas, para concorrer na promoção da semana:

"Parabéns pela coluna, em primeiro lugar! Bom, minha maior coleção era a de CDs do Oasis. Porém, como eu disse, era... Fui assaltado ontem na estrada (SP-340, perto de Mogi-Mirim), e além de meu carro, os caras levaram meus documentos, roupas e 30 dos meus melhores discos... Tinha de tudo um pouco: além de todos os meus seis CDs do Oasis, tinha quatro do REM e quatro dos Beatles, só para citar alguns... Se fosse um dos vencedores, escolheria o "Familiar to Millions", do Oasis, como prêmio. Curiosamente, na hora em que fui rendido pelos dois caras armados, tava tocando "Step Out", mas não quero o CD pra ficar lembrando do susto, não. Longe disso! Na verdade eu quero esse disco logo porque ele é muito bom mesmo..."

Essa coluna, sensibilizada, presenteia o leitor com o "Familiar to Millions", do Oasis.

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Até mais. Bom Carnaval! Sem samba enredo, sem desfiles, na prainha ou no cinema, com a cidade vazia.

Esquindô-lelê
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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