Pensata

Lúcio Ribeiro

11/12/2002

Erros e acertos

"Mom and Dad went to a show/
They dropped me off at Granpa Joe's/
I kicked and screamed, said 'Please don't go'"
"Sliver", Nirvana

"Bond. James Bond"
James Bond


Olá.
Vou tentar fazer uma coluna de um modo mais sóbrio desta vez. Semana passada foi triste. Troquei bolas, errei datas. Na verdade, o de sempre.
Mas o grande problema foi o acidente de percurso que inutilizou TODOS os e-mails que eu recebi na quarta (dia 4) e na quinta (5) da semana passada. Justo os "dias fortes" desta coluna, os que ela registra o maior número de mensagens recebidas.
Foi o famoso "pau" no computador da Folha.
Portanto, ficou irrecuperavelmente prejudicada a eleição para a melhor banda de 2002, o tema da enquete da semana.
Convido os que mandaram e-mails nessas datas acima a repetirem a ação interativa nesta semana. A eleição vai perdurar mais sete dias.
Por uma questão de justiça, os prêmios não serão sorteados. Vão ser turbinados, como você poderá conferir abaixo. Mas nomes de ganhadores, só na quarta que vem.
Depois desse papo administrativo, vamos ao que interessa: política.

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ZERO ZERO SETE

Espetáculo para os olhos, no próximo dia 10 de janeiro estréia no Brasil o filme "Um Novo Dia para Morrer" ("Die Another Day"), a mais nova aventura do mais famoso agente secreto do mundo e a marca de filmes em série mais antiga da história do cinema.
Essa nova aventura de James Bond dá para ser definida como... uma aventura de James Bond. Com todos os exageros, explosões, situações McGyver, mulheres bonitas, paisagens esplendorosas e a ação de costume.
O melhor do novo 007, o vigésimo filme da série em 40 anos, é a referência a si mesmo. "Um Novo Dia para Morrer" lembra, brinca e paga tributo aos outros episódios do luxuoso franchising.
A começar pelo aparecimento da Bond girl da vez, a morenaça Halle Berry, que surge do mar como surgiu a primeira das garotas do James (Bond. James Bond), Ursula Andress ("O Satânico Dr. No", de 1962).
Há uma cena em que Bond volta para a Inglaterra, depois de um longo tempo em uma masmorra norte-coreana. O avião chega a Londres, o visual da capital inglesa enche a tela e então passa a tocar "London Calling", hino do histórico grupo The Clash. Bem legal.

* AS PANTERAS 2 - Parece que "Full Throttle", a sequência do filme das garotas do Charlie (Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu), vai ter "Get Free" do Vines na trilha. Pelo menos a música embala o trailer do filme.

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OS EUA E A MASTURBAÇÃO

A história de que os Simpsons visitaram o Brasil é coisa do passado. O papo agora é Lula visita os EUA.
Aí, né, um leitor engajado foi atrás da novidade do primeiro encontro entre nosso líder e o líder deles. Ver o que estava rolando e tal.
Em vez de entrar no site oficial da Casa Branca, que é o www.whitehouse.gov, ele caiu no www.whitehouse.org, uma variação.
Nada de Lula por lá. O leitor, então, sapeando o site, teve sua atenção chamada pelo canal "Patriotic Initiatives" (iniciativas patrióticas).
Dentro do programa de "reforma da América" para moralizar, limpar e fazer do país uma coisa mais linda, como propaga o minissite, tem um item que chama a atenção: Operação Pureza Infinita.
Diz a introdução: "O presidente Bush se orgulha em apresentar a ambiciosa nova fase na luta para preservar tudo aquilo que é decente na América... a 'Operação Pureza Infinita' é dedicada à completa erradicação da masturbação do solo americano até o ano de 2005".
Os EUA estão loucos com a busca solitária do prazer sexual: experts estimam que há ao menos 150 mil americanos se masturbando neste momento. Masturbação custa aos negócios americanos ao menos $3.14 bilhões em perdas de produtividade por mês.

* É ver para crer. A encucação lá não é só o terrorismo, a guerra contra o Saddam, o "South Park".
Tem até um gráfico que entrega o crescimento da masturbação em relação aos governos democratas (Bush é republicano).
E a campanha vai além. Está no site:
- Mito: masturbação não faz mal a ninguém
- Realidade: estudos médicos provam que masturbação crônica causa fraqueza e problemas na memória
- Mito: Masturbação não é imoral
- Realidade: Leia sua 'Bíblia'. Deus se ofendeu tanto quando Onan derramou seu sêmen no chão que o matou. É verdade que Onan não estava se masturbando, mas o ponto é que Deus odeia quando homens desperdiçam esperma, não importanto qual a razão.
- Mito: Masturbação é um crime sem vítima
- Realidade: Teólogos em masturbação concluíram que masturbação é uma ponte para o pecado. Isso significa que a masturbação leva a ofensas mais sérias. Na verdade, praticamente todos os estupradores, sodomistas, pedófilos e pornógrafos começaram como masturbadores.
- Mito: Americanos valorizam sua liberdade e nunca concordarão com a proibição da masturbação
- Realidade: Aparatos masturbatórios já são considerados ilegais na terra do presidente Bush, o estado do Texas. As polícias de San Antonio e Austin endossam agressivamente esta lei.
O site, extremamente trabalhoso e bem-feito, não é sério. É uma espécie de "O Planeta Diário" americano. Alguém lembra (ouviu falar?) do sensacional jornal humorístico do final dos anos 80, primo da "TV Pirata" e pai do "Casseta & Planeta", todos dos mesmos autores?
O que parodia a Casa Branca vai nessa linha. Vale muito a visita. Principalmente quando fala das atividades sociais e as dicas de receitas da primeira-dama americana.

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GALA INDIE

(Upload)

A música independente brasileira foi muito bem tratada na semana passada em São Paulo. Festival decentíssimo, "feira" indie, baladas pós-shows, shows pós-shows.
A cena, depois do Goiânia Noise e do recente Upload, que tomou três dias da semana passada no Sesc, volta a ter a temperatura aquecida de certa altura animada do ano passado.
O Upload 2002, diverso e intenso, botou nossos guerreiros alternativos, que já tocaram em cada lugar com cada aparelhagem de som, a se apresentar em um palco decente, com som decente, em um espaço decente, em uma localização decente: a Choperia do Sesc Pompéia.
Casas como o recém-aberto Orbital e a badalada Funhouse promoveram uma espécie de "after-hours" roqueiro, promovendo concertos de bandas legais fora-do-festival, como Lava e Thee Butchers' Orchestra.
Sobre o Upload, das apresentações que vi na quinta e na sexta (sábado não deu para ir), o que dá para falar sobre algumas performances é:
O Los Pirata, que abriu o festival, detonou. Surf-punk de responsa, ótimos músicos, Fender profissional duelando com uma bateria de criança, fez seu costumeiro ótimo show, o que não chega a ser novidade para quem já trombou a banda pelo circuito. O Objeto Amarelo seguiu a excelência. Hard rock setentista, o grupo está na hora certa no lugar errado. Se cantassem em inglês e morassem em Londres ou Nova York, seriam mais badalados que o Datsuns. O guitarrista, Carlos Issa, tem ótima voz para o som que tocam. Pose zero, tem uma presença de palco monstruosa. A carioca Leela, pop adocicado por cima de um som de guitarra bem tocado, faz shows bem fofos, como foi o do Upload. É como se a Paula Toller (pelo sotaque, pelas letras românticas...) fosse vocalista do Weezer. Os gaúchos posers do Cachorro Grande começaram demolidores. Tinha visto a banda ao vivo em duas oportunidades anteriores e não gostado de nenhuma, porque tudo era uma embolada só. Muita pose sem um som decente para mostrar. Mas no Upload foi diferente. Pelo menos nas três primeiras canções, a banda impressionou pela violência sonora e pelo gás. O miolo foi fraco, mas a retomada para o final, regada a sangue, devolveu a energia perdida. Uma fenda na cabeça do vocalista, aberta pela guitarra voadora do amigo, de alguma forma resgatou a unidade da banda (quando os instrumentos funcionam em conjunto, sem ser o barulho pelo barulho). O fato lembrou o truculento Henry Rollins, da Rollins Band, que em um show de Santos meteu o joelho no nariz e cantou ensanguentado até o fim. A decente Los Hermanos, a mais conhecida das bandas indies, devia fazer shows mais curtos. Seu rock-samba (diferente de samba-rock) de letras bonitas funcionou em uma primeira parte, mas depois ficou chato, repetitivo. Amigos de opiniões confiáveis, que frequentaram o festival no sábado, disseram que perdeu (eu, por exemplo) quem não viu as ótimas apresentações do Instituto (mais Sabotage), artistas de hip hop com inspirações eletrônicas, e do velho e bom Forgotten Boys, trio paulistano de veia punk.

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OS SIMPSONS NO BRASIL

Pronto. O episódio em que o desenho mais legal do planeta azucrinam o Brasil de uma maneira espetacular (sequestro, zona, ratos e macacos nas ruas, ambiguidade sexual, apresentadoras loirudas aliciando criancinhas) foi ao ar no último domingo na Fox. Não doeu.
Bacana foi o pronunciamento que a emissora paga levou ao ar antes de começar o episódio e durante os intervalos. A famosa "tirada da reta".
Dizia mais ou menos o comunicado: "A Fox resolveu mostrar o desenho mesmo sabendo que algumas situações contidas nele não correspondem à realidade dos costumes e cultura do nosso país e traz, em muitos momentos, grandes exageros".
Em um dos intervalos do desenho, quem mudou para o "Fantástico" pode conferir outra amostra difamatória da realidade brasileira. Uma reportagem feita por um cinegrafista amador no Morro do Salgueiro, no Rio, em que pessoas com armas na rua, em plena luz do dia, fazem parte da rotina. Inclusive é mostrado um assassinato, cujo corpo da vítima é queimado em seguida. Assim, ao ar livre.
Os Simpsons são mesmo exagerados.

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TRÊS PARA AGORA

* "Contradiction"
Kelly Osbourne

O disco da filha do Ozzy é até bacana e saiu no Brasil. Chama "Shut Up". Se liga, Courtney Love.

* "Scary Monsters (and Supercreeps)"
The Mechanics

Está no single novo da banda indie goiana, lado B de "Formigas Comem Porra", lançamento da Monstro Discos

* "United States of Whatever"
Liam Lynch

O cara é de Los Angeles, mora em Londres e o som já é hit em Nova York. Rock tipo MTV, adolescente. Mas é bacana. O cara é amigo do Dave Grohl, do Marilyn Manson, apadrinhado pelo Paul McCartney e a música é zoeira. Ouça já. Produto perecível. O cara é esquisito e bota em seu álbum "músicas falsas". Procure entender por quê.

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ERREI ("Birds of Prey")

Tinhas várias Mulheres-Gato no texto da semana passada, que recomendava o seriado "Birds of Prey", da Warner. Vou tentar de novo. Lá vai.
É a história do Batman nos dias de hoje. Na Gotham City atual, a população da cidade é protegida por aquela que foi a Bat-Girl (a filha do comissário Gordon), que vive confinada em uma cadeira de rodas, graças a uma perversidade antiga do Coringa. Ela comanda de seu QG secreto duas garotas fofas que lutam contra os facínoras. Uma das meninas nasceu de um romance que o Batman teve com a criminosa Mulher Gato. Cool. Os efeitos são legais e a trama, narrada pelo indefectível mordomo Alfred, nem é tão cascata assim. Mas parece que o seriado já teve seu fim, nos EUA. Pena.

* Falando em seriado, decentíssimo o capítulo de "Friends" que passou nesta semana, no canal Warner. O star Freddie Prinze Jr apareceu na trama, como o bonitão que vai ser babá do filho da Rachel e do Ross. Claro, chamou a atenção da mulherada. "Você é gay", perguntou o Ross. "Mas pelo menos é bissexual?"

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SEU JORGE

Esqueci disso na coluna da semana passada. O Rio de Janeiro todo, por todas as tribos, só fala do Seu Jorge. O cara é um negro ex-morador de rua que virou referência neste verão, segundo dizem na cidade. Ele era líder daquela banda Farofa Carioca, passou a fazer trilha sonora para filmes nacionais e é um dos atores de "Cidade de Deus".
A zona sul está parada na do cara. Principalmente a mulherada mais bem colocada, digamos. Ele abarrota uma boate no Leblon com seu decantado samba suingado, algo como um novo Jorge Benjor.
A máxima dele é dizer que os ricos sempre quiseram curtir um samba, mas tinham receio de ir à zona norte para ouvir. Então ele trouxe o samba para a zona sul.

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FESTIVAL DE CURITIBA. E AÍ?

Parece que é dia 5 o anúncio oficial das atrações daquele que seria o maior festival de todos os tempos do Brasil. Parece que não tem a propagada lista Strokes, White Stripes, Coldplay e tantos outros. Mas alguma atração internacional deverá ser anunciada. E os indies Los Pirata, Butchers e Cachorro Grande estão confirmados, ou quase.

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BOA ALMA

Algum bom samaritano tenta mudar um pouco o cenário macabro das rádios rock do Brasil. Em um caso particular, na Brasil 2000FM. Tem duas vinhetas da rádio que usam como fundo sonoro a estupenda "Mr. You're on Fire Mr.", da banda nova-iorquina Liars, de "art-funk". Parabéns para esse ser.

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MANCHESTER NO BRASIL

O filme "24 Hour Party People", documentário dramatizado sobre a estupenda cena de Manchester circa 1980 (Joy Division etc.) que foi hit nos últimos festivais de cinema de SP e Rio, foi comprado pelos produtores locais e entra em cartaz em circuito pequeno no mês de janeiro.

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RRIP-RROP

* Fique de olho. No próximo final de semana, o Sesc Santo André (SP) promove o festival "Nos Porões do Hip Hop". A entrada é gratuita e vai ter shows dos badalados Rappin' Hood, Mamelo Sound System e, claro, Instituto & Sabotage. Detalhes no www.motormusic.com.br/shows.html.

* "Enemy of the Enemy", disco da banda anglo-hindu de sons múltiplos Asian Dub Foundation, já está na internet, todo ele. O disco só será lançado em fevereiro. É resultado, contaminado, influenciado pela turnê mundial que a banda fez nos últimos anos, a mesma que inclusive a trouxe para o Brasil. E do Brasil nasceu a ótima "Rebellions", que tem o vocal do Edy Rock, dos Racionais, cantando sobre o Massacre do Carandiru. A caçar.

* O grupo de rap cubano Orishas, que já agitou o saudoso Free Jazz, toca em um evento novo chamado Oi Summer Groove 2002, que acontece nos dias 19/12 (São Paulo) e 20/12 e 21/12 (Rio de Janeiro). Em SP vai ser no Via Funchal, junto com Ultramen e O Rappa. No Rio, no MAM, acompanhado de Seu Jorge, entre outros.

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A VIDA É CHEIA DE SOM E FÚRIA 2

A peça pop adaptada por Felipe Hirsch em cima do famoso "Alta Fidelidade", livro de Nick Hornby, vai ter segunda versão. O espetáculo que abarrotou teatros brasileiros vem aí remontado, com músicas diferentes e novos atores.

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POPICES

* LOVE - A dama Courtney Love foi curtir a noitada do principal clube indie do mundo, o Trash (Londres), na última segunda-feira. Pegou fila e tudo.

* STROKES - Quem viu o programa do entrevistador americano David Letterman na semana passada, no canal Multishow, testemunhou mais uma visita dos Strokes, dessa vez cantando "Someday", com o brasileiro Fabrizio Moretti sem sua famosa cabeleira. O baterista está careca.

* MÚSICAS TRISTES - Sinal de que belas baladas do Colplay vêm aí: a loira hollywoodiana Gwyneth Paltrow deu um pé no pobre do Chris Martin, depois de dois meses de namoro.

* NOBREZA INDIE - Essa nota saiu com data errada na semana passada (Êêê, Lucião!) e volta de novo, porque a hora é essa. O rock independente e a dance music descolada tomam de assalto o salão nobre do estádio do Pacaembu (SP) na sexta, dia 13, quando rola a festança a R$ 5 armada pelo trukker Thiago Ney, jornalista da Ilustrada. No som: Guab, Paulão Garagem, Lúcio Ribeiro (who?) e ele, Thiago Ney himself. Vai lá balançar esse esqueleto. O espaço é demais.

* TOQUE - Vale dar um pulo virtual em Curitiba e conferir a revista pop eletrônica "Bacana", que mora no www.bacana.art.br. Nesta semana vai ao ar o número 13, cuja "matéria de capa" é a remontagem da peça "A Vida É Cheia de Som e Fúria".

* BALADAS - Os vanguardeiros Les Sucettes tocam no teatro do Crowne Plaza (centro) nesta sexta, às 21h /// A banda Pb faz show sábado no DJ Club (Jardins) /// E a banda Go Hopey! se apresenta na Fun House (Consolação) enquanto a pista da casa é comandada pelo luxuoso DJ Rick Levy.

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A MELHOR BANDA DO ANO

(ENQUETE E PROMOÇÃO)

Então vai continuar. O papo é o mesmo.
Qual o grupo o melhor grupo de 2002? Quem é o nome do ano? O Rush, que veio ao Brasil? Os Strokes demolindo o Reading Festival? Os Tribalistas? Vines, Hives, Pelvs? A volta do Suede? O sangrento Cachorro Grande?
Vote no lucio@uol.com.br. Quem mandar seu voto concorre aos seguintes prêmios.

* Um exemplar bootleg 'Thom Yorke Acoustic', registro com 18 músicas de duas apresentações solo em outubro do líder do Radiohead, com ótima qualidade. O CD foi ofertado aos leitores deste espaço pela loja paulistana Velvet (www.velvetcds.com.br).

* A coletânea do Nirvana, com a inédita 'You Know You're Right'

* O CD 'Is This It', dos Strokes, em edição com DVD que tem clipes e apresentações da banda nova-iorquina

* O CD "Outubro ou Nada", o novíssimo segundo disco da idolatrada banda indie gaúcha Bidê ou Balde.

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E...
...Fim.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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