Pensata

Lúcio Ribeiro

15/01/2003

Perigo, perigo!

"Danger! Danger! High Voltage! When we touch, when we kiss!"
"Danger! High Voltage", Electric Six

"Feel the city breakin' and everybody shakin',
and we're stayin' alive, stayin' alive."
"Stayin' Alive", The Bee Gees


Obas!
Algumas pessoas são admiráveis quando estão infelizes, miseráveis, derrubadas. O belo "Heartbreaker", disco de 2000 do cultuado guitarrista indie Ryan Adams, eu suspeito, é produto de uma grande dose de dor. E a canção "Oh My Sweet Carolina" é o perfeito e tranquilo pulsar do disco, uma canção tão silenciosa que você não quer nem respirar enquanto ela toca. (Ajuda o fato de Adams cantar a música em dupla com Emmylou Harris, a mais harmoniosa vocalista da história da música pop.)
Já no álbum seguinte, o "Gold", Adams parece estar mais contente, animado, e, embora isso seja uma boa coisa para ele, é uma má notícia para mim.
Suas músicas alto-astral são legais, mas elas parecem um monte de outras canções alto-astral. Seus blues, as músicas mais tristes, fazem Ryan Adams ser diferente, especial.
Quais direitos nós temos aqui? É válido querermos tirar proveito próprio da tristeza de alguém? Além do que, existem milhares de "nós" e apenas um "ele". No caso de Adams, como você pode estar feliz realmente se você é um sujeito comum na felicidade, mas extraordinário quando está em depressão profunda?
Isso parece crueldade, eu sei, mas o negócio é o seguinte: os que tiverem hoje romanticamente envolvidos com alguém de real talento, faça um favor para o mundo e dê um pé na bunda dele. Valeu aí.

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NICK HORNBY NOVO (E COM CD)

O texto acima não é meu, óbvio. É uma tradução minha, toda própria, de uma escrita do Nick Hornby, o adorado escritor pop britânico. Hornby, autor da "bíblia" "Alta Fidelidade", talvez o livro definitivo da geração pop atual, acaba de lançar nos EUA seu quinto livro, "Songbook".
E, aqui, a mistura vida pessoal e música é mais explícita.
"Songbook" traz 31 ensaios sobre as canções preferidas do Hornby. Sob o mote das músicas escolhidas, claro, vem o tratado costumeiro do autor sobre os estragos ou as benfeitorias que as canções pop podem causar no cotidiano e na história de cada um.
Como se não bastasse os textos ótimos, o livro de Hornby vem com um CD, mas só com 11 músicas, que foi o que o autor conseguiu liberar das gravadoras para essa sua obra beneficente.
Eis as relações das músicas "tratadas" em "Songbook":

*Teenage Fanclub, "Your Love Is the Place That I Come From"
*Bruce Springsteen, "Thunder Road"
*Nelly Furtado, "I'm Like a Bird"
*Led Zeppelin, "Heartbreaker"
*Rufus Wainwright, "One Man Guy"
*Santana, "Samba Pa Ti"
*Rod Stewart, "Mama, You Been on My Mind"
*Bob Dylan, "Can You Please Crawl Out Your Window?"
*The Beatles, "Rain"
*Ani DiFranco, "You Had Time"
*Aimee Mann, "I've Had It"
*Paul Westerberg, "Born for Me'
*Suicide, "Frankie Teardrop"
*Teenage Fanclub, "Ain't That Enough"
*J. Geils Band, "First I Look at the Purse"
*Ben Folds Five, "Smoke"
*Badly Drawn Boy, "A Minor Incident"
*The Bible, "Glorybound"
*Van Morrison, "Caravan"
*Butch Hancock and Marce LaCouture, "So I'll Run"
*Gregory Isaacs, "Puff The Magic Dragon"
*Ian Dury, "Reasons to Be Cheerful"
*Richard and Linda Thompson, "Calvary Cross"
*Jackson Browne, "Late for the Sky"
*Mark Mulcahy, "Hey Self-Defeater"
*The Velvelettes, "Needle In a Haystack"
*O.V. Wright, "Let's Straighten It Out"
*Royksopp, "Royksopp's Night Out"
*The Avalanches, "Frontier Psychiatrist"
*Soulwax, "No Fun / Push It"
*Patti Smith, "Pissing In a River"

* Se algumas dessas músicas não fazem tanto sentido assim para você, pode apostar que os textos de Hornby farão.

* No CD vêm as duas do Teenage Fanclub, Paul Westerberg, Bible, Aimee Mann, Rod Stewart, Mark Mulcahy, Ani DiFranco, Ben Folds Five, Rufus Wainwright e Badly Drawn Boy.

* Mas quem quiser já o livro vai ter que, por enquanto, apelar à importação e se virar com o inglês. "Songbook" até entrou na lista de lançamentos para ano da editora Rocco, que detém os direitos de Hornby no mercado nacional. Mas não há previsão de data e nem deve ser tão cedo. Na Inglaterra, o livro sairá só no fim de fevereiro e com outro nome, "31 Songs". No site da Amazon dá para comprar. Ou o jeito é pedir para amigos viajantes e tal.

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HORNBY EXTRA

Como você já deve ter percebido, o texto de Hornby sobre "Oh My Sweet Carolina", de Ryan Adams, não está no "Songbook". Ele foi publicado nesta semana exclusivamente no site da editora americana McSweeney's Books (www.mcsweeneys.net).
A editora promete, em seu site, como celebração do lançamento de "Songbook", publicar durante a semana novos ensaios sob o tema "canções favoritas". Pelo que eu entendi, não só do Nick Hornby.

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A MÚSICA MAIS FAMOSA DE 2003

"Danger! High Voltage". Essa música do Electric Six, grupo maluco da prolífica Detroit, deveria estar no livro de Nick Hornby só por causa de seu início romântico, de sublimação: "Fire in the disco, fire in the Taco Bell!", sobre um casal que dá curto-circuito quando se beija (epígrafe lá de cima).
A música, um disco-punk misterioso (daqui a pouco a explicação), é a mais falada deste ano de poucos dias. Saiu em single em Londres e vendeu pacas. Entrou direto no SEGUNDO lugar da parada oficial britânica, que sempre comporta lixos comerciais inomináveis nas primeiras posições.
É hit em pista de Nova York. Marco Lockmann, o informante nova-iorquino da coluna, testemunha que o novo hit explodiu em todos os clubes indies do eixo Manhattan-Brooklin, em um fenômeno só comparável com o que aconteceu no ano passado quando começou a rolar "Emerge" (Fischerspooner) e "House of Jealous Lovers" (The Rapture).
Ele relata: "Você não tem noção do que rola aqui quando toca a música. Tem gente que sobe em cima do balcão do bar, das caixas de som...".
O Electric Six circula desde 1995, 1996 pela cena garage de Detroit. A banda é cheia de cara com nomes legais: Dik, Disco, Surge Joebot, M, Rock'n'Roll Indian, Tait Nucleus. Esses caras justificam em cheio o nome da banda.

Reprodução



Basicamente misturam disco music, punk, new wave. E do caldo sai um raio de "disco metal". Conforme já falou esta coluna, Electric Six é como se o John Travolta fosse o vocalista do Motorhead.
Parece que o resto do repertório da banda é normal, sem nada demais. "Danger! High Voltage" é que é o bicho.
O single foi lançado semana passada na Inglaterra e cravou o segundão fácil. Fizeram fama por lá graças a explosivos shows na ilha em uma miniturnê britânica de outubro.
A banda tem um disco cheio, "Rock Empire", mas ainda não foi lançado comercialmente. Segundo conta, o CD está guardado e nenhum dos integrantes jamais viram uma cópia. Algumas versões piratas dos shows ingleses, quando encontrados, custam fortunas na feira de Camden Town, em Londres.

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ELECTRIC SIX: O MELHOR DA HISTÓRIA

O que está construindo a fama do Electric Six é um mistério que envolve o nome de quem faz o ótimo backing vocal, meio feminino, meio descontrolado, em "Danger! High Voltage".
Quase toda a imprensa musical americana e inglesa jura que a voz é de Jack White, o guitarrista e vocalista do ótimo White Stripes, também de Detroit. Mas a banda nega, dizendo que é um tal de John S O'Leary o dono da voz. Esse O'Leary a banda não explica direito quem é.
"Não sei por que todo mundo está achando que é o Jack White, embora pareça muito, mesmo", falou o Dick.

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ELECTRIC SIX: O MELHOR DA HISTÓRIA DOIS

(PROMOÇÃO)

O melhooooooor da história, mesmo. Graças a Marco Lockmann, a antena de Nova York, esta coluna tem em mãos um single promocional de TRÊS polegadas com duas músicas do Electric Six para sorteio. Tem "Danger! High Voltage" e "Young Heart Attack". Dá uma olhada no CDzinho (que toca bacana em qualquer aparelho).

Reprodução



Quer ele. Tenta a sorte: lucio@uol.com.br

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FESTIVAIS (CURITIBA E RIO)

* Em nosso boletim semanal do Curitiba Pop Festival, nenhum andamento. Quer dizer, nenhum andamento agradável. Sobre a vinda daquela histórica banda inglesa, aparentemente não vai rolar. A empresária do grupo negou que esteja em negociações e afirmou que não há possibilidade de a banda vir para cá em maio. Voltamos a zero.

* Em compensação, vai ter o Skol Rio, no final de janeiro, no Jockey Clube carioca. Com as seguintes atrações: Lenine, Jota Quest, Pedro Luis e a Parede, Seu Jorge, Fernanda Abreu, entre outros.

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STEREO TOTAL NO BRASIL

Esse, embora ainda não confirmado, é ponta firme. A dupla franco-germânica de delicioso electropop Stereo Total vai vir ao Brasil sob duas formas: em coletânea exclusiva e para se apresentar em São Paulo e Belo Horizonte, por volta de maio.
O selo da banda, o vanguardista Bungalow, de Berlim, montou parceria com o selo indie paulistano Bizarre para intercâmbio de discos e projetos.
A Bizarre vai ter na mão os trabalhos de tais como Saint Etienne, Maxwell Implosion, Le Hammond Inferno, Stereo De Luxe, entre outros.
Para começar, o primeiro lançamento da parceria será uma coletânea exclusiva do Stereo Total, construída com os principais hits dos três discos da banda, que deve estrelar o festival mineiro Eletronika deste ano e vai lançar novo álbum em meados de 2003.
O Stereo Total recentemente excursionou pelos EUA e Europa com os Strokes, que apadrinharam a banda.
Aliás...

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MANO WLADIMIR E A LITERATURA INDIE

A Internet é linda porque você pode escrever qualquer coisa e botar no ar que espalha que é uma beleza. Vide esta coluna.
De tudo o que eu já vi e recebi, nada se compara ao fenômeno que é o texto de Wladimir Cunha, jornalista de Belém (PA), com o nome "A Primeira Festa de Aniversário do Mano Wladimir". Mano Wladimir, você sabe, é o nome (é sério!) do filho da cantora Marisa Monte. E o outro Wladimir, o Cunha, decidiu fazer um ensaio indie-futurístico sobre o garoto e toda aquela gente da MPB que o cerca.
Só minha caixa postal deve ter recebido uns mil e-mails diferentes de uma moçada me recomendando tal texto.
Até aí tudo bem, é assim mesmo.
O legal é que já começaram a pirar em cima do texto. Começaram a pintar umas versões em inglês, esloveno, russo, italiano, alemão, em islandês do texto. Talvez já pensando na internacionalização da coisa, pegaram a literatura do Wladimir e botaram no tradutor de textos do site Altavista.
É sério. Descobri que Carlinhos Brown, em islandês, é Carlinhos Brúnn.

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O ROCK E A PEDOFILIA

Coisa complicada essa prisão e depois soltura, na Inglaterra, do guitarrista Pete Townshend, integrante da lendária banda inglesa The Who. O músico, que é inocente até sentença contrária, disse que assinou o site pornô americano de abusos infantis para "fazer pesquisa". Estão até vasculhando letras do Who, compostas por Townshend, para ver se acham "mensagens de obsessão pela sensualidade infantil".

* "Pictures of Lily", "I'm a Boy" e a ópera-rock "Tommy" estão sendo revisadas com olhar rigoroso.

* E o pior é que a Scotland Yard disse que tem mais um "rock star" na mira.

* A última vez que Townshend havia aparecido em público foi para falar (mal) da frase que Kurt Cobain cunhou no seu diário, o "Jornals". Cobain dizia que preferiria morrer novo, antes de virar um Pete Townshend.

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WHITE STRIPES NOVO

Atestado do moral adquirido pelo DJ inglês Erol Alkan, dono da noite Trash, a principal noitada indie do Reino Unido. O Trash já vem tocando, exclusivamente, o novo disco da cultuada dupla de Detroit, "Elephant", previsto para sair em abril.

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POPICES

* A primeira música tocada na nova versão do reality "Big Brother Brasil" foi "Eyes Wide Open", da ótima banda da vanguarda nova-iorquina Radio 4. Punk-funk na Globo. Sério.

* O Zwan, a nova banda do ex-pumpkin Billy Corgan, gravou uma cover do clássico "Number of the Beast", do Iron Maiden. A música vai estar no próximo single do grupo, o bacanudo "Honestly".

* A nova noite Superblast fez sua estréia no último sábado, no Tramp Club, em SP, com um público enorme e problemas estruturais. Houve dificuldade para entrar, para sair, falta de mais barmen para atender a demanda, problemas no som da pista e um calor absurdo na casa. Márcio Custódio, promoter do Superblast, promete soluções já para este próximo sábado, quando repete a dupla com Kid Vinil nas picapes, enquanto o Smiley (Santos) e o Supralux tocam ao vivo. O Tramp Club fica em Pinheiros, perto da Fnac.

* Também no sábado, este colunista duela com o trukker Thiago Ney, também da Folha, nas picapes do Sound, o projeto saturnino do DJ Club, nos Jardins.

* E em Santos, neste mesmo sábado, o indie-pop embala mais uma Popscene, festa quinzenal que acontece no Retrô Bar & Lounge, na rua XV de Novembro. O pico, segundo relato, é ótimo e fica em bela área revitalizada do centro de Santos. Visual garantido e som bom para quem é local ou quer dar uma descida até perto do mar.

* Confira a lista das 10 músicas que mudaram o mundo, (mais) uma votação da revista inglesa "Q":

Elvis Presley - "That's All Right"
The Beatles - "I Wanna Hold Your Hand"
Sex Pistols - "God Save the Queen"
Sugarhill Gang - "Rapper's Delight"
Nirvana - "Smells Like Teen Spirit"
Billie Holiday - "Strange Fruit"
Bob Dylan - "Like a Rolling Stone"
Run DMC - "Walk This Way"
New Order - "Blue Monday"
Band Aid - "Do They Know It's Christmas?"

* A gravadora underground carioca Midsummer Madness abriu nesta semana a votação pública para o 2º Indie Destaque versão 2002, o 'Oscar do Indie Brasileiro'. Para ver os indicados, categorias e votar, basta dar uma chegada no www.mmrecords.com.br. Dá inclusive para ver quem faturou o prêmio do ano passado. Vai lá e vote no seu indie predileto.

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PROMOÇÕES DA SEMANA

(Enquete)

Pegando o livro "Songbook", do Nick Hornby, como inspiração, esta coluna inaugura as enquetes de 2003 com a pergunta: qual a música mais significativa de sua vida. A pergunta não é fácil, mas garante a concorrência a prêmios supimpas como:

* Mais um DVD do Fatboy Slim, o sensacional "Big Beach Boutique"

* Um DVD dos Sex Pistols, "Nevermind the Bollocks...", da série "Classic Albums".

* Um CD "Under Construction", da diva do hip hop Missy Elliott.

Para constar, a música mais significativa da minha vida foi, por muito tempo, "Temptation", do New Order. Não sei se é mais, na verdade.

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VENCEDORES DA SEMANA PASSADA

* Um DVD do Fatboy Slim, "The Big Beat Boutique"
Patrícia Porgentini
São Paulo, SP

* Um DVD do Soft Cell, 'Live in Milan'
Diego X
Belo Horizonte, MG

* Um álbum "Under Construction", da Missy Elliott
Marcelo Tovar Ribeiro
Campinas, SP

* Um CD caseiro de "Nocturama", o ainda inédito álbum do ótimo
Nick Cave
Luísa Terezinha Sintz
Blumenau, SC

* O álbum "A Rush of Blood to the Head", do Coldplay, um dos discos do ano
Marcelo Bezerra
São Paulo, SP

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E...

só.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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